Fase diocesana do processo de Maria Vieira praticamente pronta para seguir para Roma

Postulador diz que faltam pequenos acertos relacionados com o milagre

O próximo bispo de Angra se “assim o entender” já poderá enviar para a Congregação das Causas dos Santos o processo de beatificação e canonização de Maria Vieira, a jovem mártir terceirense que perdeu a vida a defender a sua virgindade.

” O processo está praticamente concluído: levantamento da situação histórica; entrevistas a pessoas que vivenciaram o tempo de Maria Vieira, pormenores sobre a sepultura do seu corpo, tudo isso está feito e redigido, faltando apenas as questões relacionadas com o Milagre” refere o postulador dicoesano, padre Manuel Carlos Alves.

“Caberá ao novo bispo, se assim o entender, enviar o processo para Roma” esclarece ainda lembrando que Maria Vieira já ´ºe santa no coração de muitos terceirenses.

“Vejam as romarias e a forma devota com que as pessoas visitam a Capela erguida no lugar onde foi violada”, adianta ainda o sacerdote.

O bispo de Angra deu luz verde em fevereiro de 2018 ao inicio do processo de canonização  de Maria Vieira da Silva, uma jovem terceirense  de 13 anos,  natural da paróquia de São Sebastião, que foi brutalmente martirizada por defender a preservação da sua virgindade até à morte, a 4 de junho de 1940.

O processo tem como promotor o pároco de São Sebastião, Padre Domingos Graça, e como postulador da causa o Cónego Manuel Carlos, pároco de Santa Cruz da Praia da Vitória.

“Tendo obtido já o parecer favorável da Conferência Episcopal Portuguesa e o nihil obstat da Sagrada Congregação para as Causas dos Santos, iniciamos o processo”, adiantava  D. João Lavrador numa Nota Pastoral enviada a todos os diocesanos.

“Ponderadas as condições e a oportunidade para tal facto, decidimos aceder a tal pedido e começar com as diligências normativas para se prosseguir com o processo que conduzirá à decisão sobre a beatificação da jovem Maria Vieira da Silva” afirma o bispo de Angra que não esconde ter sido sensível “aos sinais” de santidade e de devoção relativamente a Maria Vieira da Silva.

“A fama de santidade vem desde o inicio. Ao local do seu martírio recorrem muitas pessoas em atitude de obter graças e, desde então até hoje, continua a sua fama de santidade e o desejo manifesto por inúmeras pessoas para que seja reconhecida como mártir pela Igreja e seja exposta como modelo de santidade para os jovens de hoje” refere o prelado diocesano na nota pastoral.

“A coragem e a valentia, a fidelidade e a coerência, que marcam a vida de Maria Vieira da Silva e que a levaram até ao martírio, são muito importantes para a vida da comunidade cristã, mas é igualmente um sinal luminoso para os jovens de hoje mergulhados numa cultura do prazer, do descartável, narcisista e sem raízes consistentes para a edificação da dignidade humana” refere ainda a nota pastoral, destacando as virtudes heróicas desta jovem.

“Dada a sua formação católica, a sua vivência cristã, o clima de oração diária em sua casa, a sua pertença à cruzada eucarística e os valores cristãos que norteavam a sua conduta, desde logo se reconheceu que foi mártir para defender a virtude da virgindade”, justifica o prelado diocesano insular na nota .

“Aos olhos humanos o martírio assenta sempre numa tragédia, mas sob o olhar da fé é fonte de graças inesgotáveis”, precisa D. João Lavrador que pede a oração comprometida de todos os diocesanos para que o processo chegue a bom porto.

“Com a abertura do processo de beatificação da Maria Vieira da Silva, ela abre a sua vida a toda a Igreja diocesana, e mesmo fora dela, para que todos os diocesanos possam implorar de Deus a graça da sua beatificação de modo que em breve tenhamos o reconhecimento oficial da santidade presente nela e a ela possamos recorrer como nossa irmã e intercessora junto de Jesus Cristo”, frisava então D. João Lavrador.

O processo, que está a chegar agora ao fim, “longo, minucioso e oneroso”, ganha forma  para seguir para Roma depois do trabalho das várias comissões histórica e teológica, que contribuiram para a sua instrução, o que exigiu recolha de testemunhos, análise de fontes históricas, documentos e tudo o que for relevante para justificar primeiro a beatificação e depois a canonização.

A Comissão Teológica foi necessariamente composta por teólogos, cuja identidade não pode ser revelada; já a Comissão Histórica é formada por José Guilherme Reis Leite, Ricardo Madruga da Costa e Neves Leal, que tem já produzida alguma investigação compilada em livro com a história de Maria Vieira da Silva.

Depois de concluída a fase diocesana, o processo segue para Roma, para a Congregação para as Causas dos Santos, onde será declarada primeiro a beatificação e depois a canonização, sendo que como o fundamento para o processo é o facto da jovem ser mártir poder-se-á dispensar a prova da existência de milagre.

Maria Vieira da Silva, nascida a 11 de Novembro de 1926 na antiga Vila de São Sebastião da Ilha Terceira, Açores, no dia 4 de Junho de 1940 era brutalmente martirizada por defender a sua virgindade frente a um homem que sem escrúpulos a queria abusar na sua honra e dignidade mais intima, ao qual ela resistiu até à morte.

A jovem, antes de morrer pronunciou o nome do agressor e disse «que não lhe tinha raiva», «não lhe façam mal» exclamou, e que «lhe perdoava».

Filha de Júlio de Sousa da Silva e de Isabel Vieira da Silva, casal católico que soube incutir nos seus filhos o amor a Deus e aos irmãos, desde cedo aprendeu a colocar toda a sua vida ao serviço da vontade divina. Aos seis anos já frequentava a catequese ministrada pelo pároco, na altura o Padre Joaquim Esteves. Fez a primeira comunhão e a comunhão solene, rezava todos os dias o terço em família e era cumpridora dos princípios e orientações da fé católica.

Do processo judicial que se seguiu à sua morte e que acabou por condenar o autor do crime, realça-se a sua morte como defesa da sua honra.

A solenidade que se aproxima, na próxima segunda-feira, dia 1 de novembro, celebra justamente aqueles que já tendo sido canonizados ou cujo processo está a decorrer servem de exemplo para a santidade dos cristãos em geral, quer pela sua fé, quer pela sua entrega quer ainda pelo seu exemplo de caridade e entrega.

As Igrejas do Oriente foram as primeiras (século IV) a promover uma celebração conjunta de todos os santos quer no contexto feliz do tempo pascal, quer na semana a seguir.

No Ocidente, foi o Papa Bonifácio IV a introduzir uma celebração semelhante em 13 de maio de 610, quando dedicou à Santíssima Virgem e a todos os mártires o Panteão de Roma, dedicação que passou a ser comemorada todos os anos.

A partir destes antecedentes, as diversas Igrejas começaram a solenizar em datas diferentes celebrações com conteúdo idêntico.

A data de 1 de novembro foi adotada em primeiro lugar na Inglaterra do século VIII acabando por se generalizar progressivamente no império de Carlos Magno, tornando-se obrigatória no reino dos Francos no tempo de Luís, o Pio (835), provavelmente a pedido do Papa Gregório IV (790-844).

Neste dia, a liturgia apela ao chamamento feito por Cristo a cada um de nós para o seguir e, ser santo à imagem de Deus.

São João João Paulo II foi um grande impulsionador da “vocação universal à santidade”, tema renovado com grande ênfase no Segundo Concílio do Vaticano.

Segundo a tradição, em Portugal, no dia de Todos os Santos, as crianças saíam à rua e juntavam-se em pequenos grupos para pedir o ‘Pão por Deus’ de porta em porta: recitavam versos e recebiam como oferenda pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, amêndoas ou castanhas, que colocavam dentro dos seus sacos de pano; nalgumas aldeias chama-se a este dia o ‘Dia dos Bolinhos’.

O feriado de Todos os Santos é um dos quatro atualmente suspensos em Portugal, juntamente com os dias do Corpo de Deus, 5 de outubro e 1 de dezembro.

Esta supressão/suspensão entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 2013 tendo ficado consignada em lei a 30 de agosto de 2012, na 5.ª alteração ao Código de Trabalho de 2009; segundo o mesmo código, será obrigatoriamente objeto de reavaliação “num período não superior a cinco anos”.

O Papa Francisco celebrará missa, como no ano passado no maior cemitério de Roma, as 17h00 (hora dos Açores). Há um ano, Francisco rezou pelas vitimas das diferentes tragédias da humanidade e afirmou que este “é um dia de esperança”.

Dia 2 novembro tem lugar a ‘comemoração de todos os fiéis defuntos’, que remonta ao final do primeiro milénio: foi o Abade de cluny, Santo Odilão, quem no ano 998 determinou que em todos os mosteiros da sua Ordem se fizesse nesta data a evocação de todos os defuntos ‘desde o princípio até ao fim do mundo’.

Este costume depressa se generalizou: Roma oficializou-o no século XIV e no século XV foi concedido aos dominicanos de Valência (Espanha) o privilégio de celebrar 3 missas neste dia, prática que se difundiu nos domínios espanhóis e portugueses e ainda na Polónia.

Durante a I Guerra Mundial, o Papa Bento XV generalizou esse uso em toda a Igreja (1915).

A Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos deste ano litúrgico começa e acaba no domingo.

 

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