Igreja “colocou-se em atitude de escuta, de abertura sem preconceitos nem julgamentos”

Pe. Norberto Brum faz balanço positivo deste caminho sinodal que a Igreja viveu em Roma e em todo o mundo

As conclusões do Sínodo dos Bispos sobre os jovens a fé a Igreja respondem ao desafio proposto pelo Papa Francisco, logo no inicio da preparação do Sínodo, que foi colocar a Igreja à escuta dos jovens, procurando ouvi-los, acompanhá-los e dar-lhes protagonismo, disse ao Igreja Açores o Pe. Norberto Brum, diretor do Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil, em Angra.

Numa entrevista que pode ouvir este domingo no programa de Rádio Igreja Açores, que vai para o ar em simultâneo depois do meio dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra, o sacerdote sublinha que a atitude de escuta é “fundamental”.

“Uma das conclusões do sínodo é este sentido de escuta: a igreja colocou-se em escuta, com abertura, sem preconceitos e sem julgamentos, abrindo-se àquelas que são as realidades dos jovens” afirmou o Pe. Norberto Brum.

“A igreja compreendeu o quão importante é estar ao lado dos jovens, acompanhá-los e dar-lhes protagonismo”, reforçou destacando que espera agora pela exortação que “continuará a despertar a Igreja para esta realidade dos jovens”.

“A igreja respirou uma verdadeira sinodalidade, não só em Roma mas em todas as igrejas particulares” acrescentou, ainda.

Recorde-se que nos Açores, semanalmente registou-se uma corrente de oração tendo como intenção principal o sucesso do trabalhos dos padres sinodais.

As conclusões do Sínodo dos bispos, na XV Assembleia geral ordinária, sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, que teve lugar no passado mês de Outubro, em Roma, foram sufragadas pela grande maioria dos seus membros.

Dos 167 parágrafos postos à consideração dos padres sinodais, 125 suscitaram menos de uma dezena de votos contrários tendo, portanto, sido aprovados por, pelo menos, 240 votos a favor.

O documento final do Sínodo 2018 sublinha em vários pontos a necessidade de escutar os jovens e construir uma relação de confiança com eles, nas comunidades católicas.

“Evitando iludir os jovens com propostas minimalistas ou sufocá-los com um conjunto de regras que dão do Cristianismo uma imagem redutora e moralista, somos chamados a investir na sua audácia e educá-los para que assumam as suas responsabilidades”, assinala o texto, aprovado na sua totalidade pela maioria requerida de dois terços dos votantes.

As conclusões da assembleia, que decorreu no Vaticano desde 3 de outubro, evocam as crianças de rua e os jovens presos, além das pessoas com deficiência.

“O mundo juvenil também está profundamente marcado pela experiência da vulnerabilidade, da deficiência, da doença e da dor”, pode ler-se.

Os participantes no Sínodo sustentam que é o “cuidado com as relações” que mede a qualidade das comunidades cristãs e as torna “significativas e atraentes” para os jovens.

O documento está dividido em três partes – 12 capítulos, 167 parágrafos e 60 páginas – e encerra esta fase da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

Em causa, realçam os padres sinodais, está a necessidade de preparar adequadamente “leigos, homens e mulheres, capazes de acompanhar as jovens gerações”, que, perante fenómenos como a globalização e a secularização, se movem numa direção de “redescoberta de Deus e da espiritualidade”.

Os bispos definem como “insubstituível” o papel desempenhado pelas escolas e universidades católicas, apelando a uma maior integração destas realidades na atividade paroquial, a “Igreja no território” que deve ser missionária e não estática.

As jovens gerações, observa o texto entregue ao Papa, querem ser “protagonistas” da vida eclesial, apelando-se a que sejam “encorajadas” a participar na vida eclesial, e não impedidas, com “autoritarismo”.

A juventude pode estar “mais à frente dos pastores” e, nesse caso, também deve ser acolhida, respeitada e acompanhada.

Numa assembleia que tinha entre os seus temas o “discernimento vocacional”, os participantes assumiram a necessidade de fala de “vocação” como marca de todas as vidas e como chamamento à santidade, para os batizados.

Acompanhar os jovens, observa o documento final do Sínodo 2017, é uma missão a ser realizada a nível pessoal e de grupo.

O documento fala ainda do celibato dos sacerdotes, pedindo que seja um “dom a ser reconhecido e verificado na liberdade, alegria, gratuidade e humildade”.

“A Igreja é o ambiente para discernir e a consciência, é o lugar onde se colhe o fruto do encontro e da comunhão com Cristo”, pode ler-se.

Entre os “desafios urgentes para a Igreja”, o documento final aponta a necessidade de soluções para envolver os jovens na construção de comunidades mais familiarizadas com o digital, promovendo o seu potencial comunicativo e tendo em vista o anúncio cristão.

Do Vaticano saíram votos de que sejam criados secretariados e organismos para a cultura e a evangelização digital que, além de “favorecer a troca e a disseminação de boas práticas, possam gerir sistemas de certificação de sites católicos”.

A presença de mulheres nas equipas de preparação dos seminários e dos cursos pré-matrimoniais é outro assunto abordado, desejando-se que este esforço leve a “superar tendências de clericalismo”.

“As diversidades vocacionais inserem-se no único e universal chamamento à santidade. Infelizmente, o mundo está indignado com os abusos de algumas pessoas da Igreja, mais do que animado pela santidade dos seus membros”, declaram os participantes.

No texto, toma-se o episódio dos discípulos de Emaús, narrado pelo evangelista São Lucas, como “fio condutor”.

O Sínodo 2018 contou com a participação inédita de mais de três dezenas de jovens convidados e foi o primeiro a utilizar o português como língua oficial, nos trabalhos.

(com Ecclesia)

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