Jubileu quer despertar «revolução da ternura» face a cenários de violência e exploração

Papa Francisco explica objetivos do Ano Santo e promete surpresas

O Papa Francisco quer que o Jubileu da Misericórdia provoque uma “revolução da ternura” nos mais diversos níveis, prometendo um “gesto” simbólico durante cada mês do Ano Santo extraordinário (dezembro 2015-novembro 2016).
“A revolução da ternura é o que temos de cultivar como fruto deste ano da misericórdia: a ternura de Deus para com cada um”, disse, em entrevista à revista oficial do Jubileu, ‘Credere’, hoje divulgada pelo Vaticano.
Francisco adiantou que o programa prevê “muitos gestos” e que ele próprio irá concretizar “um gesto diferente” numa sexta-feira de cada mês, durante o Jubileu da Misericórdia, promovendo uma “atitude mais tolerante, mais paciente, mais terna”.
O Papa deu como exemplo de mudanças a promover o relacionamento entre patrões e trabalhadores.
“Se um empresário contrata um empregado de setembro a julho não faz a coisa certa, porque o manda embora para as férias e vai buscá-lo de volta com um novo contrato”, negando-lhe direitos, precisou.
Neste caso, o empresário “não mostra ternura, mas trata o empregado como um objeto”, sustentou Francisco.
O Papa nega que este ano santo seja uma “estratégia”, mas diz que é algo presente na tradição da Igreja e que, pessoalmente, lhe vem de dentro, recordando que já em 1994 tinha apresentado, durante um Sínodo dos Bispos, esta ideia da misericórdia como “revolução da ternura”, algo pelo qual foi repreendido “por um bom homem”, já muito idoso.
“Eu continuo a dizer que hoje a revolução é a da ternura, porque daqui deriva a justiça e tudo o resto”, assinala.
Para o Papa Francisco, este Jubileu é “o ano do perdão, o ano da reconciliação”, uma proposta da Igreja a todo o mundo.
“De um lado vemos o tráfico de armas, a produção de armas que matam, o assassinato de inocentes das formas mais cruéis possíveis, a exploração das pessoas, menores, crianças: está em curso – permita-me que o diga – um sacrilégio contra a humanidade”, alertou.
O pontífice lamentou que as pessoas se tenham habituado a “más notícias, notícias cruéis e às maiores atrocidades” que ofendem “o nome e a vida de Deus”, que é “pai e mãe”.
“O mundo tem necessidade de descobrir que Deus é Pai, que é misericórdia, que a crueldade não é o caminho”, apelou.

Neste sentido, o Papa admitiu que a Igreja tem por vezes a “tentação” de seguir uma “linha dura” e sublinhar apenas as “normas morais”, esquecendo que “muita gente está fora”.
Francisco retoma a imagem do “hospital de campanha” para definir a missão da Igreja nos dias de hoje, face a “tanta gente ferida e destruída”.
Quando vejo os doentes, os idosos, a carícia surge-me espontaneamente. É um gesto que pode ser interpretado ambiguamente, mas é o primeiro gesto que a mãe e o pai fazem à criança recém-nascia, o gesto do ‘gosto de ti’, ‘amo-te’, ‘quero que sigas em frente’”, explicou.
A entrevista aborda a importância que o tema da misericórdia sempre teve para Jorge Mario Bergoglio, cuja vocação sacerdotal nasceu a 21 de setembro de 1953, aos 17 anos, com o acompanhamento do padre que o confessou nesse dia, Carlos Benito Duarte Ibarra.
O sacerdote faleceu no ano seguinte, com leucemia, e o atual Papa confessa que teve “medo” de que Deus o tivesse abandonado, tendo chorado “amargamente” depois do funeral.
Já em Roma, Francisco disse que gostava sempre de visitar a Igreja de São Luís dos Franceses para rezar diante de um quadro de Caravaggio ali presente, ‘A vocação de São Mateus’.
CR/Ecclesia

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