Madre Teresa de Calcutá e o Papa Francisco unidos pelas “periferias”

Monsenhor Weber Machado destaca “personificação do amor ao próximo”

A Madre Teresa de Calcutá foi a personificação viva do amor ao próximo afirmou este sábado, ao Sítio e ao programa de rádio Igreja Açores (que será transmitido amanhã pelas 12h00 na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra), Monsenhor Weber Machado um dos homens na igreja açoriana com mais experiência na área da pastoral sócio caritativa.

“Ela teve a coragem de se entregar aqueles que a sociedade deixa na margem e na valeta e que, não tendo hipótese de fazer grandes coisas, tem esta atitude de os acolher, fazendo com que vivam os últimos anos da sua vida com alguma dignidade”, precisou o sacerdote que durante anos chefiou a Cáritas de São Miguel.

Monsenhor Weber Machado, que participou igualmente nas Semanas de Estudos dos Açores, na década de 60 e 70, acrescentou que “a proximidade, este saber que estão ali pessoas que respeitam a natureza humana é, de facto, uma prova de que todos somos irmãos” e foi isso “que ela disse com os seus gestos e o seu acolhimento”.

“Através da sua ação mostrou que, apesar das diferenças Deus é pai para todos indistintamente”, concluiu. E por isso, o seu exemplo é muito próximo do do Papa Francisco que assenta o seu pontificado na simplicidade, assumindo-se como “uma benfeitora da humanidade”.

O padre Brian Kolodiejchuk, postulador da causa de canonização de Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), por seu lado, destacou a “grande afinidade” entre o Papa Francisco e a religiosa que vai ser proclamada como santa, este domingo, no Vaticano.

O atual responsável geral pelos Padres Missionários da Caridade falava aos jornalistas na sala de imprensa da Santa Sé, antecipando a celebração de canonização de uma das figuras mais conhecidas da Igreja Católica no século XX.

O sacerdote sublinhou que a futura santa e o Papa Francisco estão ligados em particular pela atenção “às periferias”, aos “mais pobres dos pobres” e a quem sofre com a “pobreza interior”.

“Há certamente uma grande afinidade entre o Papa Francisco e a Madre Teresa: as periferias, procurar, ir em busca dos mais pobres dos pobres, ir às periferias, mesmo a experiência de escuridão, estar identificado, partilhar aquilo a que Madre Teresa chamava a maior pobreza do mundo de hoje: não ser amado, querido, cuidado”, referiu, em conferência de imprensa.

Para o responsável pela condução do processo de canonização da religiosa, há uma coincidência na preocupação com as “periferias existenciais” e a necessidade de não ficar “indiferente” à presença dos pobres, respondendo com “compaixão”, “misericórdia”.

Francisco tem citado por diversas vezes a figura da Madre Teresa, que “no silêncio soube escutar e fez muito”; durante uma das suas homilias matinais, na casa de Santa Marta (19.11.2015), contrapôs os traficantes de armas aos “trabalhadores da paz”, que dão a sua vida para ajudar uma pessoa que seja, como Teresa de Calcutá.

Já em setembro de 2015, recordando o aniversário da morte da futura santa, Francisco observou que o exemplo de vida desta religiosa mostra que “a misericórdia de Deus é reconhecida” nas obras de cada um.

O Papa Francisco assinou ainda o prefácio do mais recente livro dedicado à Madre Teresa de Calcutá, com textos inéditos da futura santa, convidando os jovens a aprender com ela a importância de estar nas “periferias”.

“[Caridade] é tornarmo-nos próximos das periferias dos homens e das mulheres que encontramos todos os dias e sentir compaixão pelos últimos no corpo e no espírito”, escreve.

No livro, o Papa recorda a importância da oração na vida da religiosa, cujo trabalho foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz.

Francisco espera que esta figura ajude a “despertar consciências” para o “drama da pobreza” e leve os católicos a “entrar no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina”.

No início do prefácio, o Papa lembra que “a Igreja não é uma ONG”, algo que era dito pela própria Madre Teresa.

“As ONG trabalham para projetos e nós trabalhamos para Alguém. A Igreja trabalha para Cristo e para os pobres nos quais Cristo vive, nos estende a mão, invoca ajuda, pede o nosso olhar misericordioso, a nossa ternura”, precisa.

Francisco deixa uma palavra de estímulo aos jovens, que convida a ser “construtores de ponte, para eliminar a lógica das divisões, da recusa, do medo dos outros”, colocando-se “ao serviço dos pobres”.

O livro ‘Amemos quem não é amado’ foi publicado pela Editora Missionária Italiana.

A futura santa, vencedora do prémio Nobel da Paz (17 de outubro de 1979), faleceu em 1997 e foi beatificada por João Paulo II em 2003. Será canonizada amanhã na Praça de São Pedro.

(Com Ecclesia)

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