“Não podemos continuar a ser uma igreja acabrunhada e desmotivada; temos de voltar a sorrir”

Ouvidor da Horta, padre Marco Luciano Carvalho, é o convidado do programa de rádio Igreja Açores

O Papa fala em cristãos com cara de sexta-feira santa, cara de vinagre; o ouvidor da Horta afirma que a Igreja açoriana não pode viver “acabrunhada ou desmotivada”. Numa entrevista ao programa de Rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo depois do meio-dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra, o sacerdote, que é ouvidor há seis anos, lembra que nem a pandemia nem a ausência do bispo explicam uma certa apatia que existe e que, em sua opinião, derivam da desmotivação e da indiferença com que se vive hoje.

“Não é apenas um problema da Igreja; em várias estruturas sociais há falta de mobilização, de entusiasmo e de participação” refere o padre Marco Luciano Carvalho.

“Deixamos de viver num tempo de cristandade; os casais que têm hoje filhos na catequese já estavam mais afastados da Igreja… Onde estão as famílias jovens, onde está a juventude, no Faial e noutras ilhas?” interpela o sacerdote ao sublinhar que estes são os três grandes desafios da ouvidoria, mas da Igreja “também”.

“Temos de combater a indiferenças e a falta de motivação , e até de desconfiança, em relação às instituições” acrescenta.

“Os nossos grandes desafios são a família, a juventude e a iniciação cristã. Tudo começa na família; sem ela não podemos ter uma boa iniciação cristã e se não a tivermos não temos jovens comprometidos” esclarece.

“A Igreja tem de fazer alguma coisa por isto: todos somos chamados a refletir esta realidade; é importante que não abandonemos algumas das coisas a que a caminhada sinodal nos convida e que nos leva à reflexão de que urge olhar para aquilo que somos para vermos o que podemos fazer enquanto Igreja para que ela tenha um rosto diferente, que não seja uma igreja acabrunhada e desmotivada. Temos de fazer tudo para que voltemos a sorrir” adianta.

O sacerdote , que é pároco no coração da cidade da Horta , na Igreja Matriz, e na paróquia dos Flamengos, lembra que a pandemia, embora não seja responsável por todos os males, tem condicionado a forma de ser Igreja. As dificuldades de reunião levantadas pela pandemia resultaram numa outra consequência que tem a ver com questões financeiras.

“Não podemos viver só do culto ou das coletas” e esta pandemia “disse-nos isso” refere.

“Temos de ter imaginação e rentabilizar o nosso património” frisa o padre Marco Luciano Carvalho que conhece bem as fragilidades provocadas por questões financeiras. Desde 2006 que lidera no Faial o plano de recuperação das igrejas destruídas pelo sismo em 1998, que deitou ao chão 9 tempos da ilha azul e conhece o “cansaço” das populações que se desdobraram e reinventaram para angariar fundos para a reconstrução das Igrejas.

“Estamos todos cansados” desabafa lembrando que ainda falta terminar a Igreja de Pedro Miguel e iniciar o processo de construção do novo templo da Ribeirinha.

“Estas questões fragilizaram e condicionaram a vida das comunidades cristãs do Faial”, refere.

Na entrevista que pode ouvir aqui, este domingo e também na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra, a partir do meio-dia, o sacerdote fala das virtudes dos planos pastorais diocesanos e do entusiasmo que eles despertavam nos leigos; da caminhada sinodal, que “no principio até despertou interesse “ de crentes e não crentes com o destaque para o trabalho que os jovens da Escola Secundária Manuel de Arriaga desenvolveram no primeiro ano da caminhada sinodal; da sede vacante “que não impede a diocese de prosseguir” e do Museu de Arte Sacra da Horta, um dos projectos que mais felicidade lhe traz apesar do incumprimento de promessas por parte do Governo Regional, ao arrepio “do que foi o compromisso do senhor Presidente do Governo”, recorda.

“O Museu de Arte Sacra abriu com o apoio da comunidade local,  das autarquias, mas sobretudo das pessoas como já foi com a Igreja do Carmo. Infelizmente da parte do Governo ainda não foi honrado qualquer compromisso assumido com o Museu”, lamenta afirmando que se trata de “um desrespeito” diante do  esforço das pessoas.

Quanto ao futuro da ouvidoria, e da diocese, lembra que a Igreja local está em vésperas de assinalar 500 anos de vida e isso deve “fazer-nos olhar com vistas largas”.

“Já tivemos muitos bispos, uns entraram outros saíram e outros nem sequer cá puseram os pés e isso não nos trouxe grande transtorno. Continuamos  a ser igreja, continuamos a ser cristãos e não deixamos de fazer o que tínhamos de fazer. Isso é de maturidade eclesial e laical e de sentido de Igreja”, conclui numa entrevista ao programa de Rádio Igreja Açores.

 

Ouvidoria do Faial

A ouvidoria do Faial tem  13 paróquias e sete sacerdotes. A ouvidoria possui dois centros sociais e paroquiais- o Centro Comunitário do Divino Espírito Santo, nos Flamengos e o Centro Social e Paroquial das Angústias, na cidade da Horta- uma Santa Casa da Misericórdia, uma capelania hospitalar, uma Cáritas de ilha e a presença de uma comunidade religiosa na ilha . Os Carmelitas da Ordem Terceira do Carmo têm uma presença muito significativa e ativa. A ouvidoria possui igualmente o único Museu de Arte Sacra da diocese de Angra.

 

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