O medo não pode servir de pretexto para a desumanização dos cuidados de saúde, alerta médico Luís Cabral

Ex Secretário Regional da saúde comentou a mensagem do Papa a propósito do dia Mundial do Doente e fala das consequências da pandemia na saúde mental das pessoas

Proximidade e humanização dos serviços de saúde são o antídoto contra o medo criado pela pandemia afirmou em declarações ao Igreja Açores o médico açoriano Luís Cabral.

“Os profissionais de saúde escolheram tratar doentes e isso implica uma grande preocupação com a pessoa; infelizmente nos últimos anos temos assistido a uma maior focalização na ciência e na resposta que ela dá ao tratamento e perdemos a noção do humano” afirma o ex-secretário regional da Saúde especialista em emergência médica.

“Esta pandemia veio acentuar mais esta questão: só os fatos que vestimos são disso um exemplo. Atrás dos fatos dificilmente percebemos as expressões, vemos um rosto ou sentimos uma verdadeira presença” reconhece o médico salientando que “esta pandemia criou um enorme medo na proximidade física”.

A partir de um testemunho pessoal, o médico lembra que as primeiras vezes que transportou doentes covid, nas diferentes ilhas, “ sentia um medo enorme pelo que poderia acontecer e por desconhecimento. Vamos ter consequências destes comportamentos ao longo de várias anos” referiu ainda salientando os “lutos que não foram feitos” e as “perdas que não foram reparadas”.

“A saúde mental agravou-se” disse ainda o médico especialista. Acresce “que se tem apostado nas questões do tratamento em vez do acompanhamento psicológico”.

“Hoje em dia podemos dizer que há um retrocesso na humanização dos cuidados de saúde; a ciência é boa, os avanços nas terapias são bons mas um doente não é apenas a sua doença” sublinha Luís Cabral.

As declarações do médico foram feitas na sequência da leitura da mensagem do Papa para o Dia Mundial do Doente «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso» (Lc 6, 36) Estar ao lado de quem sofre num caminho de amor.

“A mensagem do Papa é um momento de reflexão e serve como farol”, refere ainda o médico católico que destaca a proximidade com os doentes que “não devem ser tratados apenas pela sua patologia ou pelo número que têm no hospital”.

“Mais importante do que tudo é a pessoa que temos à nossa frente”.

“A preocupação que ela tem e a ansiedade que revela para que o seu problema seja resolvido são relevantes e devem ser atendidos”, remata.

O Dia Mundial do Doente foi celebrado no dia 11 de fevereiro. O dia diocesano do doente é comemorado na quinta semana da Quaresma.

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