Padres da Obra de Maria colocam-se ao serviço “cumprindo a vontade de Deus”

Comunidade brasileira serve na diocese de Angra há seis anos

Evangelizar de todas as formas com alegria, cientes de que “onde estamos é onde Jesus quer”, é o lema dos sacerdotes da Comunidade da Obra de Maria, que há seis anos gerem duas paróquias na ilha de São Miguel, Ponta Garça, na ouvidoria de Vila Franca do Campo e Rabo de Peixe, na Ribeira Grande.

Quem conhece bem a diocese sabe que não são paróquias fáceis. Desde logo pela dimensão; depois pela população que tem hábitos bem vincados. Alguns assentes em tradições difíceis de alterar.

Rabo de Peixe, por exemplo, a mais populosa paróquia dos Açores e também a mais problemática do ponto de vista social, com cerca de um terço da sua população a viver do Rendimento Social de Inserção, constitui um desafio.

“O nosso objetivo é estar sempre à disposição da Igreja naquilo que ela necessita e se nós fomos colocados ali é porque era aí que eramos precisos”, diz o Pe José Cláudio , pároco de Rabo de Peixe há quatro anos.

Natural do estado brasileiro do Paraíba, quando surgiu esta hipótese nem sabia onde ficavam os Açores. Mas, “como a missão era esta, aceitei-a porque era a vontade de Deus e vim”.

Na bagagem trouxe apenas uma enorme disponibilidade “para escutar, aprender e conhecer”, afinal, “também eu estou a ser evangelizado”, diz com a simplicidade de quem está ao serviço.

“Um missionário não escolhe o lugar para onde vai, nem a paróquia que vai integrar nem as pessoas que vai encontrar”, sublinha lembrando que onde “está a igreja estou em casa, porque onde há cristãos há família” e na igreja de Jesus Cristo “o que importa é fazer o bem sem olhar a quem”.

A comunidade Obra de Maria é uma das novas comunidades de vida consagrada. Nasceu no Brasil pela mão do pernambucano Gilberto Gomes Barbosa há 25 anos e veio para os Açores a convite do atual prelado, D. António de Sousa Braga.

A forma celebrativa com que levam o Evangelho onde quer que haja pessoas cativa. Podem celebrar a palavra na Igreja, na casa de uma família ou na rua, o importante “é tocar o coração das pessoas, falar-lhes de Jesus e levá-las à conversão”, diz ainda o sacerdote, “sempre a partir da sua própria realidade porque nós não podemos impor nada”.

Talvez esse seja o segredo para o sucesso. Ainda este verão a iniciativa Jesus na Rua, celebrada em várias travessas de Rabo de Peixe, uma comunidade piscatória da ilha de São Miguel, foi um sucesso, com uma forte participação popular.

“Se nós estamos a transmitir a palavra de Deus, que é sempre uma boa nova, temos de o fazer com alegria. Alguma vez alguém dá boas noticias de cara grande?”, questiona o sacerdote, lembrando as origens.

“Somos Renovação Carismática Católica. Nascemos e crescemos nos carismas do Espírito. Somos testemunhas do poder da efusão do Espírito Santo e, como testemunhas, queremos levar outros a experimentarem o mesmo Pentecostes”, ressalva o pároco de Rabo de Peixe, o sacerdote mais velho da Comunidade, que neste momento serve a diocese.

A sul da ilha há outra comunidade, mais antiga, também.

O Pe Oniel Ramiro, chegou a São Miguel há menos de um ano e serve duas paróquias de Vila Franca do Campo: Ponta Graça e Ribeira das Tainhas. Vem de Minas Gerais e , depois do receio inicial de um pais diferente, de uma forma de viver a fé diversa, hoje já se sente “mais uma ovelha deste rebanho”.

“Eu próprio estou em construção como padre porque sou novo (ordenação ocorreu há quatro anos), mas se me deixar guiar pelo Espirito Santo consigo ultrapassar todos os obstáculos, porque essa é a minha força”.

Hoje sente que ainda está a aprender, mas as reservas iniciais “de parte a parte”, foram sendo ultrapassadas.

“A igreja é um rebanho entregue ao pastor que tem de lidar com todas as ovelhas e apesar de estarem em estados diferentes todos querem o mesmo: a salvação, o que só se faz com  entrega e doação”.

Além dos sacerdotes vivem nestas duas comunidades leigos consagrados: um casal e dois rapazes. Os dois sacerdotes vieram com uma provisão de seis anos, mas “os prazos valem o que valem para as missões”.

“Podemos ficar mais tempo ou menos tempo… o tempo que ficarmos é aquele que Deus acha que é o adequado”, diz ainda o Pe Oniel Ramiro.

“Perfeitamente” integrados no trabalho da diocese, de acordo com o seu próprio carisma, os dois sacerdotes dizem que a sua estada nesta ilha tem sido “um desafio” mas afinal, “seguir Jesus é sempre um desafio”, concluem.

Confrontados com os desafios da diocese, ambos são perentórios: “aqui como em qualquer lugar é preciso que as pessoas conheçam melhor a palavra de Deus”.

“Eu posso rezar, mas a verdade é que falo mais com Deus do que o ouço e isso não é bom, não é uma oração completa”, diz o Pe José Claudio ressalvando a necessidade “urgente das pessoas lerem mais a Sagrada Escritura”.

“Nós só amamos o que conhecemos”, acrescenta o Pe Oniel Ramiro e “se nós não conhecemos bem a palavra de Deus como o podemos amar”.

Não é um jogo de palavras; “ é fé, que supera todos os preconceitos, medos e receios”, remata o Pe José Cláudio lembrando que a Igreja “tem de estar onde estão as pessoas” e “não fechar a porta a ninguém”.

“Nós não duramos sempre; colocarmo-nos no lugar do outro é deixá-lo também servir. Se nós temos alegria em servir, outras pessoas também terão e por isso quantas mais estiverem connosco a ajudar-nos no nosso magistério, melhor”, conclui o sacerdote.

A Comunidade Obra de Maria está nos Açores, mas a diocese de Angra também está numa comunidade da Obra, no Brasil, em São Paulo, com a presença de um sacerdote diocesano, o Pe Jason Gouveia.

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