Papa Francisco cumpre “desejo” de João Paulo II de visitar o Iraque, diz cónego Jacinto Bento

Sacerdote açoriano é o único guia de língua oficial portuguesa acreditado no Patriarcado Latino de Jerusalém, onde faz trabalho há mais de duas dezenas de anos

A visita do papa Francisco ao Iraque, de 5 a 8 de março de 2021, é uma espécie de sonho cumprido de São João Paulo II que teria gostado de começar a Peregrinação do Grande Jubileu do ano 2000 por Ur, refere ao Igreja Açores o cónego Jacinto Bento, diretor do Serviço Diocesano de Apoio à Pastoral da Mobilidade Humana na diocese de Angra.

“O Iraque de alguma maneira faz parte da Terra Santa. Abraão veio de Ur, Jonas converteu Nínive e o Povo de Deus esteve exilado na Babilónia. O Papa São João Paulo II teria gostado de começar a Peregrinação do Grande Jubileu do ano 2000 por Ur, mas dada a situação política de então não lhe foi possível” adianta o sacerdote que é cónego do Santo Sepulcro de Jerusalém desde 2017.

“Agora, politicamente, é possível e Francisco concretiza este desejo de São João Paulo II” acrescenta ainda o sacerdote que é o único guia de língua oficial portuguesa acreditado junto do Patriarcado Latino de Jerusalém.

“O Papa vai ao encontro dos católicos com diferentes ritos no Iraque, nomeadamente os de rito caldeu, com maior expressão e muitos mártires da fé” lembra ainda dizendo que esta visita tem, por isso, um carácter de “encorajamento aos cristãos resistentes”.

“Convém notar que o cardeal dos caldeus no Iraque é muito próximo do Papa e estas visitas são sempre muito bem preparadas” sublinha, por outro lado, o cónego Jacinto Bento. Além deste diálogo ecuménico, refere, “deve haver interesse do Romano Pontífice de promover o diálogo intereligioso entre cristãos e muçulmanos”, ao lembrar o documento assinado no ano passado, nos Emirados Árabes Unidos, sobre a fraternidade.

No dia 10 de junho de 2019, o  Papa anunciou,  no Vaticano, a sua intenção de visitar o Iraque em 2020, falando perante representantes das comunidades católicas orientais.

“Uma ideia insistente acompanha-me, pensando no Iraque, onde tenho o desejo de ir no próximo ano, para que possa seguir em frente, através da participação pacífica e partilhada na construção do bem comum de todos as componentes religiosas da sociedade, e não caia novamente em tensões que vêm dos conflitos intermináveis de potências regionais”, disse, na Sala do Consistório, perante os participantes na 92ª Assembleia Plenária da Reunião das Obras de Ajuda às Igrejas Orientais (Roaco).

A visita do Papa ao Iraque é um projeto antigo, que ainda não se concretizou devido a problemas de segurança, que afetam em particular a comunidade cristã, visada pela ação do autoproclamado Estado Islâmico.

Em fevereiro deste ano, o Papa saudou no Vaticano um grupo de peregrinos no Iraque, admitindo que tinha a intenção de visitar o país em 2020, viagem adiada por causa do atual cenário de violência.

“Estou muito próximo de vós. Sois um campo de batalha, sofreis uma guerra de um lado e do outro. Rezo por vós e pela paz no vosso país, para o qual estava programada uma visita minha, este ano”, disse o na audiência pública de quarta-feira, a última que decorreu na Praça São Pedro, por causa da pandemia Covid-19.

O arcebispo sírio-católico de Hadiab-Erbil, D. Nizar Semaan, já afirmou que a visita do Papa Francisco cumpre um desejo dos Papas João Paulo II e Bento XVI e confirma o “lugar” da comunidade cristã local na Igreja universal.

Catarina Martins Bettencourt afirma que a visita do Papa vai “dar ânimo, alento, conforto à comunidade cristã que, apesar de todas as dificuldade, continua presente no seu país”.

Scroll to Top