Patriarca de Lisboa destaca capacidade do Papa em «colocar o dedo na ferida»

D. Manuel Clemente participou em conferência na Faculdade de Direito sobre «mensagem económica e social» de Francisco.

O patriarca de Lisboa sublinhou hoje que a atuação do Papa Francisco, ao longo deste primeiro ano de pontificado, tem ajudado a “colocar o dedo na ferida” de uma sociedade marcada sobretudo pela exclusão e desigualdade.

 

 

Em entrevista à Agência ECCLESIA, no final de um debate sobre “a mensagem económica e social” de Jorge Mario Bergolgio, na Faculdade de Direito em Lisboa, D. Manuel Clemente destacou a forma clara como o Papa Francisco tem chamado a atenção para a necessidade de uma “viragem” no atual modelo económico.

 

Uma reflexão que, de acordo com o patriarca, ganhou novo fôlego através da publicação da exortação “Evangelii Gaudium”.

 

“Não é por acaso que esta exortação se chama ‘A alegria do Evangelho’, o Papa nota que esta sociedade e esta economia, pela falta de convivência e pela deriva negativa em termos de consumismo individual como objetivo do gosto e do sentimento, mata e entristece”, salientou.

 

Neste âmbito, D. Manuel Clemente recuperou um estudo recente feito pela Universidade Católica Portuguesa em parceria com o Instituto Luso-Ilírio para o Desenvolvimento Humano, “acerca dos portugueses, das elites portuguesas, e dos gostos e desgostos dessas elites”.

 

Segundo aquela investigação, “os portugueses com mais habilitações e mais rendimentos são os que dão menos importância à solidariedade, à justiça e aos valores democráticos”.

 

Por outro lado, o estudo demonstra que “quem tem mais de 4 mil euros por mês é tão infeliz como quem tem menos de 500”.

 

Estes dados, apontou o patriarca de Lisboa, são “alarmantes” e vêm ao encontro das “interrogações” que o Papa tem colocado, da necessidade de uma nova ordem, uma vez que “quem alimenta esse tipo de economia negativa e excludente também não é feliz”.

 

A conferência na Faculdade de Direito, organizada pelo Centro de Investigação de Direito Europeu, Económico, Financeiro e Fiscal (CIDEEFF), contou com a participação de Guilherme d’Oliveira Martins, presidente do Tribunal de Contas, do político Francisco Louçã, do comentador Francisco Sarsfield Cabral.

 

Marcaram também presença o coordenador do CIDEEFF, Eduardo Paz Ferreira, e o investigador Eduardo Vera-Cruz Pinto, da Faculdade de Direito.

 

Apesar de ainda ser cedo para tirar conclusões acerca da influência que o pensamento económico e social de Francisco tem tido, o patriarca de Lisboa acredita que a sua mensagem está a chegar às pessoas, inclusivamente a “intelectuais e analistas” que têm defendido as “virtualidades da sociedade liberal e até de um sentido positivo do individualismo”.

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