Quando o poder sobe à cabeça…

Por Renato Moura

Poderá não ser fácil definir “poder”, mas todos podem perceber como ele se exerce, ou como sentimos as suas consequências.

Há poder recebido por via eleitoral – com maior ou menor liberdade e lisura – que depois se exerce directamente ou se distribui às fatias por agentes, alguns inesperados e impreparados, uns e outros que por vezes o mantêm com expedientes condenáveis, ou pelo menos lamentáveis. Poder deveria ser meio para atingir objectivos legítimos, sempre serviço e nunca aproveitamento pessoal, familiar ou de clã.

Quem atinge o poder numa instituição, seja política ou social, não deve esquecer que ela tem uma história – que pode ser melhorada, mas não apagada – e os que ao longo dos anos a construíram e fizeram sobreviver e com quem se tem algo a aprender com humildade, pois não há poder decente sem conhecimento. Um poder só se afirma eficazmente com a qualidade e o respeito perante as instituições e aqueles que as integram. E quem não respeita não tem o direito de exigir respeito.

Um poder serve ao promover o diálogo em vez do domínio, ao procurar a persuasão em vez de força, ao aceitar a divergência e evitar o conflito, ao eleger o rigor sem sujeitar à humilhação, a não confundir firmeza com ameaça, ao propôr a compreensão e a tolerância em vez da arrogância vil e da vingança; sim, estas que por vezes contaminam alguns logo após a tomada do poder.

Poder não rima com dominação ou violência e esta não é só física.

Poder, ainda que democrático ou legítimo, pode tornar-se ditadura e esta não atinge apenas o topo da hierarquia, mas cada um dos seus degraus. E a ditadura não é só política, como económica e social, mas é sempre infundada.

Na Igreja, por maior força de razão, o poder deve revestir-se de comportamento exemplar, dentro da própria estrutura e nos cargos de poder temporal, quer lhe sejam inerentes ou não. A hierarquia da Igreja, em coerência com a fé que professa em Deus, deve ensinar e a melhor forma de o fazer é sendo exemplar numa prática virtuosa do poder – espiritual ou funcional – perante todos, principalmente os mais fracos e desprotegidos, seja pela sua condição humana ou moral, seja pelo modesto ou mesmo humilde cargo. O nosso Papa recentemente recordou que “Deus não exclui ninguém e quer que todos cheguem à sua plenitude”.

Nem quem atingiu o poder carismático pode abusar dele; nem quem tem poder legal pode extravasar na imposição da obediência; e ninguém pode ultrapassar as competências legais ou os princípios morais, por mais nobre que possa ser o objectivo.

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