Risco de pobreza é maior em Portugal

Cáritas diz que há cada vez mais pobres ou potenciais pobres

Portugal foi o país em que mais aumentou o risco de pobreza e exclusão social em 2014, logo seguido pela Grécia, segundo o Relatório da Crise da Cáritas Europa 2015, que é apresentado hoje em Lisboa.

O relatório “O aumento da pobreza e das desigualdades – Modelos sociais justos são necessários para a solução” é uma análise aprofundada sobre a forma como a crise está a ser enfrentada nos sete países da União Europeia mais atingidos: Chipre, Grécia, Irlanda, Itália, Roménia e Espanha.

O relatório, que foi divulgado no passado dia 19 de fevereiro em Itália, que tem a liderança do Conselho Europeu, destaca que Portugal foi o país que teve o maior aumento da taxa de risco de pobreza e exclusão social no último ano (um aumento de 2.1 pontos percentuais), seguido pela Grécia (1.1 pp).

“Outro dado relevante é que Portugal, apesar de toda a austeridade e de todos os sacrifícios pedidos, tem a segunda maior dívida pública em comparação com o PIB (128%) logo a seguir à Grécia (174,9%)”, disse à agência Lusa o presidente da Cáritas Portuguesa.

Eugénio Fonseca sublinhou que apesar de ser “verdade que em termos macroeconómicos Portugal está a dar sinais de alguma evolução, não se pode de forma alguma descurar estas conclusões” analisadas por peritos que comparam estes dados com outros países intervencionados.

Segundo o documento da organização da Igreja Católica, “a prolongada crise económica levou à intensificação das dificuldades financeiras das famílias” no primeiro trimestre de 2014, com as de mais baixos rendimentos a sentirem as maiores dificuldades para fazer face às despesas correntes.

Adverte ainda que “um número significativo de pessoas desempregadas” não está abrangido pelas redes de segurança normais, como as prestações de desemprego ou a assistência social.

A percentagem de pessoas que não recebe apoio ao rendimento é especialmente elevada na Grécia, Chipre, Itália e Portugal, onde mais de 40% das pessoas que vivem em famílias sem (ou quase sem) trabalho e pobres recebem apenas até 10% do seu rendimento de transferências sociais, e em Espanha e na Roménia, onde a percentagem se situa entre 30% e 40%.

Para os autores do relatório, que vai ser apresentado pelo secretário-geral da Cáritas Europa, Jorge Nuño Mayer,“a falta de cobertura destas pessoas sugere falta de eficácia do sistema de benefícios para chegar aos mais vulneráveis”.

Eugénio Fonseca salientou que há recomendações para ultrapassar esta situação, entre as quais garantir que seja cumprida a meta prevista na Estratégia 2020 de retirar, “pelo menos, 20 milhões de pessoas da situação de pobreza e de exclusão em que se encontram”.

“Grande parte destas pessoas estão com certeza na sociedade portuguesa”, lamentou.

Para o presidente da Cáritas Portuguesa, é preciso assegurar de “uma vez por todas e sem qualquer preconceito” um rendimento mínimo para todas as pessoas que lhes permita “viver com dignidade” e reduzir as desigualdades, “criando emprego a médio prazo”.

Para isto ser possível, a riqueza gerada tem de ser distribuída “com justiça” e têm de ser criadas condições para um “combate eficaz à evasão fiscal” e para que haja “taxas justas e equilibradas para todos os setores da sociedade” e “um equilíbrio justo na repartição dos sacrifícios”, defendeu.

“É preciso tomar conta de toda a população portuguesa, mas dar especial atenção à proteção dos grupos mais vulneráveis”, disse Eugénio Fonseca,

O relatório baseia-se na combinação dos números oficiais do Eurostat e dos institutos nacionais de estatística com a informação recolhida “no terreno” pelas Cáritas existentes nestes países, proporcionando “uma temperatura muito precisa da situação socioeconómica da população”, desde a classe média até aos mais vulneráveis.

CR/Lusa

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