Família e Desenvolvimento Regional

Por Tomaz Dentinho

Limitar o conceito de família a pessoas que vivem no mesmo alojamento condiciona o papel da família no desenvolvimento das pessoas e dos sítios. A assunção da família genealógica revela o amor como factor primordial do desenvolvimento.

Entender o desenvolvimento regional envolve, por um lado, perceber a localização, dimensão e dinâmica das entidades e das pessoas que as integram e, por outro lado, compreender a interação espacial entre essas entidades.

A escolha do tipo de interação e das entidades tem um papel crucial na análise e está diretamente relacionada com o paradigma científico que se assume: a economia neoclássica escolhe indivíduos que interagem nos mercados; seguidores de escolas de dependência preferem regiões e as suas governanças; cientistas Schumpeterianos selecionam as empresas e seus empresários, e os de tradição mais marxista selecionam grupos de interessados que interagem uns com os outros.

Todas essas perspectivas assumem que as famílias são grupos de indivíduos com atitudes percetíveis e compreensíveis sobre a produção, distribuição, consumo e fertilidade e, embora pareça haver correlações interessantes entre o desenvolvimento regional e a tipologia das famílias, não há muitos estudos sobre o papel da família no desenvolvimento regional.

Na verdade, a maioria das perspetivas de desenvolvimento regional tende a ver as famílias como unidades censitárias perdendo assim todo o âmbito que uma perspetiva genealógica das famílias permite.

Na verdade, a partir de uma perspetiva genealógica e libertada da prisão censitária, o papel da família no desenvolvimento regional revela: processos de educação, saúde e segurança social, que ligam os pais aos filhos e vice-versa, mesmo quando vivem em diferentes domicílios; regimes de propriedade empresarial que envolvem pessoas da mesma família mas que vivem em casas diferentes; a redistribuição espacial das rendas dos recursos naturais e das remessas de emigrantes é muito influenciada por laços familiares a longa distância; a gestão da sustentabilidade está presente na família alargada; as migrações influenciam e são influenciadas por ligações genealógicas; as redes familiares são facilitadoras da transferência de informação e de conhecimento; e os sistemas de transporte e habitação são quase sempre organizados através de laços familiares.

A abordagem genealógica da família possibilita uma análise mais ampla do que é possível a partir da abordagem censitária. Com base na função dos diferentes elos de amor interpessoais no desenvolvimento humano implícitas na perspetiva genealógica, é possível identificar diferentes tipos de famílias – um casal e os seus descendentes, que vivem juntos ou não; uma família multigeracional, que vivem juntos ou não; agrupamentos de família alargada; e até famílias unipessoais que a visão censitária das famílias acabou por ajudar a promover. E há estudos que demonstram que a tipologia das famílias tem impacto na educação, na saúde, nas empresas e no desenvolvimento.

Todos temos uma ideia de família genealógica, com filhos, pais, irmãos, avós, netos, cunhados, genros, noras, primos e primas de diversos graus e ramos. E todos percebemos que esse conceito é bem mais real do que limitar a família a alojamentos. No entanto, o facto desta visão censitária prevalecer na implementação das políticas públicas leva a que estas se tornem cegas face aos elos de amor e às funções que eles desempenham na dinâmica da educação, da saúde, da segurança social, dos transportes, da habitação, das empresas, da criação. Não há dúvida que o nome das coisas ou, se quisermos, o seu baptismo é sagrado. E famílias são famílias, não são alojamentos.

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