Solidariedade versus leviandade

Por Renato Moura

Soube-se com antecedência – diariamente confirmada – que o furacão Helene iria atingir as Flores e o Corvo, no passado dia 15, com forte gravidade.

Na véspera chegou às Flores um reforço de operacionais, nomeadamente o Vice-presidente do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores, o Coordenador da Equipa Operacional da Inspecção de Bombeiros, um especialista em comunicações, seis bombeiros, um médico e um enfermeiro. O Conselho de Administração do Centro de Saúde das Flores assumiu o encargo de apoio permanente aos referidos efectivos, que concretizou integralmente ao longo dos dias que durou a operação.

O envio deste reforço de efectivos é digno de registo, apesar de ser a concretização de um dever de serviço. É de louvar, pois que nem sempre os deveres gerais ou especiais das entidades públicas se concretizam. Um sinal claro de solidariedade para com a população, com a ilha e com as entidades locais, oferta de competência, experiência e humanidade.

Sim, tratou-se de um reforço de efectivos, não de substituição das entidades responsáveis e dos operacionais disponíveis na ilha, que cumpriram o que lhes coube. Todavia os presidentes das câmaras são os principais responsáveis pela protecção civil e têm especiais obrigações de socorro e assistência na iminência ou ocorrência de catástrofe.

A verdade é que, precisamente no mesmo dia em que chegava o reforço de efectivos vindo da Terceira, os presidentes das duas câmaras municipais das Flores saíram da ilha, com destino à Terceira, para participarem no Congresso Regional do Partido Socialista; como também participou o Presidente da Câmara Municipal do Corvo!

Quem substituiu os presidentes exerceu as funções com zelo e competência, mas há responsabilidades que não se delegam, exercem-se. E quando se está embrenhado no exercício de uma função e se ela se desempenha com paixão, não é preciso que a lei imponha para se assumir a responsabilidade total.

Nem seria necessária lei, pois se existe um problema local, mesmo que dum grupo populacional, duma freguesia ou lugar, é um problema do povo, que neste caso ademais era geral e sempre imporia presença. A solidariedade não se demonstra com promessas eleitorais, nem com palavras, mas pratica-se com actos.

Não pode haver partido mais importante que o povo, que se jurou servir. Nem tão pouco se fosse a tentativa de garantir candidatura futura!

Diz o povo: Quem não quiser ser lobo, não lhe vista a pele. É que, quando titular, a irresponsabilidade e a leviandade são condenáveis… pelo menos moralmente.

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