«Todos têm lugar e voz»

Igreja Açores

Por Renato Moura

O título desta partilha não é meu: fui retirá-lo, com o devido respeito, da primeira homilia de D. Armando, nosso Bispo, na Sé de Angra, no passado Domingo.

Bem sei que ele o disse referindo-se aos jovens e é um bom sinal: compreende que eles são o futuro, os protagonistas para a renovação da sociedade e da Igreja. Mas creio que em todas as declarações públicas se pode entender como o novo Bispo, aos diversos níveis, não se quer alcandorar no cimo da hierarquia, mas dialogar com todos, sejam clérigos ou leigos: ouvindo e esperando que o Espírito Santo a todos ilumine. Ele sabe como na Igreja, por vezes, poucos leigos são chamados, ou se o são nem sempre são levados a sério; mas também sabe como há leigos a não se assumirem, ficando à espera das decisões dos clérigos. E de tudo isso já nós vimos demasiado, nestas terras açorianas!

Mostra respeito e convicção de como a religiosidade popular também é Igreja, quer procurar o caminho e fazer discernimento no diálogo com todos, convicto de que a formação de um padre é contínua, de que é preciso deixar a igreja e a sacristia e estar no meio do mundo.

Creio poder já comprovar-se uma grande coerência nas várias afirmações deste Bispo, em diferentes situações e lugares, comparando-as. Poderá dizer-se que são palavras; mas nos Açores sempre se disse que a palavra vale mais que uma escritura. Afinal as Sagradas Escrituras são a palavra de Jesus e o exemplo!

Aderir ao Evangelho, dando exemplo, sair do pedestal, ver o espaço da missão, ler os sinais, buscar caminhos novos para chegar ao mundo, ver a realidade e responder, são seguramente bons propósitos para demonstrar que a Igreja não existe para si própria, pois, como magistralmente afirma D. Armando, não se concebe uma Igreja que não vive.

Outro aspecto importante é a disponibilidade continuamente prometida e reafirmada. No contacto com as diferentes ilhas, descobrindo o que disse ser “a riqueza que há em quem pensa diferente” mesmo os que sejam mais ou menos crentes, mantendo abertas as portas para todos. Creio ficaram sinais de esperança no concernente à integração, às novas famílias, aos divorciados, sem julgamentos ou rejeições.

Mesmo quando confrontado por jornalistas com perguntas imprevisíveis, demonstrou ter pensamento formado sobre inúmeros temas da vida social e da Igreja, construídos por reflexão e experiência, mas humilde e ponderadamente reservou decisões para depois de ouvir opiniões e conhecer com profundidade a realidade açoriana.

Assim saibamos ter voz e ocupar o nosso lugar.

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