Zero, dez ou catorze?

Por Renato Moura

O título desta partilha parece algo de estapafúrdio. Não de trata de nenhum dos recordes do Ronaldo; nem do número de vagas (feitas filhas e baptizadas) da pandemia; nem da quantidade, aliás incontável, de erros, contradições e omissões de muitos dos membros do Governo, cujo recorde nem é fácil de atribuir, mas com o Ministro da Administração Interna como forte candidato.

Zero pareceu ser, na óptica do Presidente da República, o número de dias de confinamento para quem, estando vacinado, há mais de quinze dias, com duas doses, teve contacto com um infectado de Covid19. As autoridades de saúde nacionais entendem que tem de haver confinamento, de dez dias, para quem recebeu contacto de infectados, mesmo tendo as duas dozes de vacina. O Presidente do PSD pergunta a razão de ser dez, em vez de catorze. Episódio recente e caricato, não é fulcral, apenas mais uma gota de água no pantanal de desinformação que grassa. A culpa não é apenas das redes sociais, também das fontes oficiais.

As observações de Marcelo, evidentemente, têm inteira razão de ser: se apesar das duas doses a obrigatoriedade de confinamento persiste, isso não desvaloriza fatalmente a vacinação? Se os certificados de vacinação digital da UE nos permitem viajar para outros países, faz sentido sermos cá sujeitos a estas limitações?

A atribuição de vacinas a escalões etários diferenciados já passou por quase tudo e o seu contrário. Os critérios de vacinação mudam constantemente, há chamada, inscrição (valerá a pena?), porta aberta e o efeito está por demonstrar. Os objectivos temporais desandam. A grande meta mobilizadora era a tranquilizadora imunidade de grupo, a qual se atingiria com os esforçadamente atingíveis 70% da população vacinada, mas agora talvez só com uns desesperantes 85%!

Muitos, talvez quase todos os cidadãos, estão confundidos, envoltos num caos de incerteza e de insegurança. Há normas e regras que constam da criação mas não se aplicam na execução; ou pior, aplicam-se sem uniformidade de critérios. Provavelmente muito mais que os corpos, os espíritos são conspurcados por novas variantes da doença caracterizadas por serem cada vez mais contagiantes; oxalá não esgotem um qualquer dia as letras do alfabeto grego.

O Governo outrora tentou ser motor gerador da esperança, da retoma da normalidade, da recuperação da economia; colapsa agora ao impulsionar uma onda de incapacidade, um tsunami de perda de confiança, um mar de descrença.

Como não se apagaria a luz ao fundo do túnel? Quando o Governo não for o Estado!

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