O Papa Francisco tem “conciliado o inconciliável: estar no palco mediático sem abdicar da profundidade da mensagem”

A opinião é do Pe Teodoro Medeiros, que está em Roma a doutorar-se em teologia bíblica

Há pouco mais de seis meses em Roma e depois de um interregno de dez anos, o Pe Teodoro Medeiros considera que dentro da igreja se respira hoje uma “liberdade” que resulta de um “regresso às fontes proposto pelo Papa Francisco”; de as ler “em absoluta liberdade” sempre “de olhos postos na realidade concreta”.

“Com o Papa Francisco passámos a ter uma certa abertura e uma certa vivência e consideração da igreja como uma realidade plural, que atravessa o clero e os cristãos em geral e isso é muito bom”, disse o sacerdote ao Sítio Igreja Açores, em Roma.

“E a aceitação desta enorme diversidade que é a igreja é a principal marca deste pontificado que nos propõe um regresso às fontes, ou seja ao Evangelho e isto não é um slogan é um dom de Deus”, referiu.

Para o sacerdote, que está a fazer o seu doutoramento em Teologia Biblica centrado no Evangelho de Marcos, particularmente, a relação de Jesus com o Sábado, na Pontificia Universidade Urbaniana, “o desafio do papa é constante e ele desinstala-nos o que é muito bom“.

“A igreja não existe sobre uma única forma porque a realidade é diversa. Desde logo, a igreja tem muitos movimentos e os cristãos não têm de ser cópias uns dos outros” refere o sacerdote sublinhando que “esta aceitação da pluralidade e da diversidade é uma atitude nova”.

O Pe Teodoro Medeiros, sacerdote há 15 anos e professor no Seminário Episcopal de Angra, destaca ainda a projecção mediática do Papa.

“O papa, com a sua imagem pública mais do que com as suas palavras, faz a diferença: o seu o carisma especifico, juntamente com os sinais proféticos, nomeadamente com a visita a sítios onde a sua presença é necessária, tem uma riqueza especial, conseguindo algo de muito difícil: conciliar a imagem mediática com profundidade teológica”.

Natural dos Arrifes, na ilha de São Miguel, o pe Teodoro Medeiros reside no Colégio Português em Roma.

“Aqui vive-se uma vida não orientada nem para a acção nem para a celebração de sacramentos, mas para recordar a organização do estudo e reaprender uma disciplina pessoal orientada para esse fim”. “A nível pessoal é um reajustamento que tem em conta, naturalmente, um certo vazio espiritual que temos que integrar; um grande silêncio que se conjuga com desafios académicos que também nos preenchem”, referiu ainda.

Para este cinéfilo, que gosta de cinema do mundo, fora dos circuitos comerciais, Roma acaba por ser “um bom porto”, mas o regresso continua no horizonte, numa espécie de certeza de que o ilhéu regressa sempre a casa.

Esta conversa pode ser seguida no programa de rádio Igreja Açores, da diocese de Angra, a ser emitido este domingo a partir do meio dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.

Scroll to Top