
O Papa assumiu hoje preocupação com notícias “alarmantes” que chegam do Irão, após um ataque promovido pelos EUA no país, num apelo à paz e em defesa das populações civis.
“Queridos irmãos e irmãs, chegam-nos notícias alarmantes do Médio Oriente, sobretudo do Irão. Neste cenário dramático, que inclui Israel e a Palestina, corre-se o risco de esquecer o sofrimento quotidiano da população, especialmente em Gaza e nos outros territórios, onde a necessidade de um apoio humanitário adequado é cada vez mais premente”, disse, desde a janela do apartamento pontifício, após a oração do ângelus.
“Hoje, mais do que nunca, a humanidade clama e invoca a paz”, acrescentou Leão XIV, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.
O presidente norte-americano, Donald Trump, confirmou este sábado que as forças armadas dos EUA atacaram três centros nucleares no Irão, unindo-se à ofensiva de Israel para destruir o programa nuclear de Teerão.
Já o Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano classificou os ataques como uma “violação flagrante e sem precedentes dos princípios mais fundamentais da Carta das Nações Unidas e das normas do direito internacional”.
O Papa Leão XIV falou de um “grito que pede responsabilidade e razão, e não deve ser abafado pelo estrondo das armas e pelas palavras retóricas que incitam ao conflito”.
“Cada membro da comunidade internacional tem a responsabilidade moral de impedir a tragédia da guerra antes que ela se torne um abismo irreparável. Não existem conflitos distantes quando a dignidade humana está em jogo.”
“Nenhuma vitória armada poderá compensar a dor das mães, o medo das crianças e o futuro roubado”, advertiu.
Leão XIV pediu que a diplomacia “silencie as armas” e que “as nações tracem o seu futuro com obras de paz, não com violência e conflitos sangrentos”.
António Guterres, secretário-geral da ONU, mostrou-se “profundamente alarmado com o uso da força pelos Estados Unidos contra o Irão”, falando numa “escalada perigosa numa região que já se encontra no limite – e uma ameaça direta à paz e à segurança internacionais”.
“Há um risco crescente de que este conflito possa rapidamente ficar fora de controlo – com consequências catastróficas para os civis, a região e o mundo”, escreve o responsável português, na sua conta da rede social X, advertindo para a possibilidade de uma “espiral de caos”.
Já António Costa, presidente do Conselho Europeu, recorreu à mesma rede social para se mostrar “profundamente alarmado com as notícias que chegam do Médio Oriente”.
“A diplomacia continua a ser a única forma de trazer paz e segurança à região do Médio Oriente. Demasiados civis serão, mais uma vez, vítimas de uma nova escalada”, escreveu.
O Papa convida os católicos a serem “portadores de comunhão e de paz”, horas antes de presidir à Missa e procissão do Corpo de Deus, que se assinala hoje em vários países.
“Que esta celebração seja um sinal luminoso do nosso compromisso de sermos todos os dias, a partir do altar e do sacrário, portadores de comunhão e de paz uns para os outros, na partilha e na caridade”, disse Leão XIV, desde a janela do apartamento pontifício, antes da recitação da oração do ângelus.
Perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, incluindo os participantes no Jubileu dos Governantes, iniciado este sábado, o pontífice apresentou uma reflexão a partir da passagem do Evangelho de São Lucas que narra o milagre dos pães e dos peixes (Lc 9, 11-17).
“Para alimentar milhares de pessoas vindas para o ouvir e pedir curas, Jesus convida os apóstolos a apresentarem-lhe o pouco que têm, abençoa os pães e os peixes e ordena que os distribuam a todos. O resultado é surpreendente: não só cada um recebe comida em quantidade suficiente, como sobra em abundância”, referiu.
“O milagre, mais que um prodígio, é um sinal e recorda-nos que os dons de Deus, mesmo aqueles pequeninos, quanto mais partilhados são, mais crescem.”
Leão XIV sublinhou que, “na raiz de toda a partilha humana há uma outra maior e anterior a ela”, que parte de Deus.
“Ele, o Criador, que nos deu a vida, para nos salvar pediu a uma das suas criaturas para ser sua mãe e dar-lhe um corpo frágil, limitado, mortal, como o nosso, confiando-se a ela como uma criança. Partilhou assim, profundamente, a nossa pobreza e, para nos resgatar, escolheu servir-se do muito pouco que lhe podíamos oferecer”, precisou.
O Papa evocou os sentimentos de quem oferece um presente e vê que ele é “apreciado por quem o recebe”.
“Na Eucaristia, entre nós e Deus, o Senhor acolhe, santifica e abençoa o pão e o vinho que colocamos sobre o altar, juntamente com a oferta da nossa vida, e transforma-os no Corpo e Sangue de Cristo, sacrifício de amor para a salvação do mundo. Deus une-se a nós acolhendo com alegria o que levamos e convida a unirmo-nos a Ele, recebendo e partilhando com igual alegria o seu dom de amor”, acrescentou.
A solenidade do Corpo e Sangue de Cristo celebrou-se em Portugal no 60.º dia após a Páscoa (19 de junho), uma quinta-feira, ligando-se assim à Última Ceia; nos países onde não é feriado civil, a celebração assinala-se no domingo seguinte.
Leão XIV vai presidir esta tarde, a partir das 17h00 (menos duas horas nos Açores) à Missa Missa no adro da Basílica de São João de Latrão, antes da procissão do Corpo de Deus que percorre a Via Merulana, concluindo-se na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma.
“Juntos celebraremos a Santa Missa e, depois, colocar-nos-emos a caminho, levando o Santíssimo Sacramento pelas ruas da nossa cidade. Cantaremos, rezaremos e, por fim, reunir-nos-emos diante da Basílica de Santa Maria Maior para implorar a bênção do Senhor sobre as nossas casas, sobre as nossas famílias e sobre toda a humanidade”, indicou o Papa.
Após a recitação do ângelus, Leão XVI saudou os parlamentares e os presidentes de Câmara presentes por ocasião do Jubileu dos Governantes e Administradores, bem como os grupos de peregrinos de vários países.
“A todos desejo um bom domingo e abençoo aqueles que hoje participam ativamente na festa do Corpo de Deus, também com o canto, a música, as flores, o artesanato e, sobretudo, com a oração e a procissão. Obrigado a todos e bom domingo”, concluiu.