A ignóbil traição dos presidentes das câmaras

Por Renato Moura

A 2 de Dezembro, dois meses depois do furacão Lorenzo, a RTP-Açores promoveu um debate. Em discussão a trágica destruição do porto das Lajes das Flores e os múltiplos problemas resultantes. Participou a Secretária Regional dos Transportes, empresários florentinos, o Presidente do Conselho de Ilha do Corvo (que é Presidente da Câmara Municipal) e também o Vice-presidente do Conselho de Ilha das Flores (que é Presidente da Assembleia Municipal das Lajes).

Faltaram, apesar de convidados, os dois presidentes das câmaras municipais das Flores!

O Presidente do Conselho de Ilha do Corvo, plenamente ciente dos problemas, mostrou conhecer a forma de os ultrapassar no imediato e durante os próximos anos. Cumpriu o papel que lhe cabe na defesa da sua Ilha e do seu povo, não se apresentando tolhido, apesar de eleito pelo PS, que é Governo nos Açores.

Quem se distinguiu, de forma brilhante, foi o empresário Arlindo Lourenço, que evidenciou as dificuldades com realismo e profundidade, demonstrou com números e percentagens a dimensão dos problemas e as consequências. Sem sequer recorrer ao conflito, soube colocar à Secretária Regional as questões pertinentes.

A Secretária defendeu-se como pôde, empurrou responsabilidades para as empresas de transportes marítimos, escondeu-se atrás das competências do Capitão do Porto. Mas procurou tranquilizar com a solução de um navio então ainda indefinido, sem como nem quando.

Ficou claro que as ilhas do Grupo Ocidental continuam fortemente condicionadas, as Flores directamente, o Corvo por via indirecta. Provado ficou que o processo de resolução dos problemas, mesmo os urgentes, tem sido muito moroso, as soluções deficientes e insuficientes em qualidade e quantidade.

Desde a localização e no decurso da construção do porto, sempre houve quem receasse que algum dia a tragédia pudesse acontecer, restando agora encarar a realidade e tomar decisões adequadas para assegurar, até onde é possível, evitar novas catástrofes.

A ausência dos presidentes das câmaras municipais é completamente inaceitável e absolutamente injustificável. E nem delegaram nos vice-presidentes! E assim se percebe que as câmaras não conhecem os problemas, nem os quantificaram e não estudaram contributos para as soluções. Recearam fazer má figura, bem sabiam que não satisfariam os empresários e as populações. Sem coragem, temeram-se do confronto com o Governo.

Optaram pela péssima estratégia de se esconderem. Condenável política e moralmente. Numa sociedade exigente morreriam para a política.

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