A igreja não tem tido capacidade para competir com a onda de coisas que monopoliza a atenção dos jovens, diz docente convidado do Seminário de Angra

Ricardo Madruga da Costa, doutor em história  dos Açores do final do século XVIII e inicio do século XX, é o convidado do programa de rádio Igreja Açores

As condições sócio-económicas de hoje  e a onda avassaladora de coisas que monopoliza a atenção diária dos jovens distrai-os,  na maioria das vezes, daquilo que é essencial prejudicando, por exemplo, a relação dos jovens com a  Igreja refere Ricardo Madruga da Costa numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores que vai para o ar este domingo, depois do meio dia na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.

O professor convidado pelo Seminário de Angra para leccionar a disciplina de História da Igreja refere que a relação dos jovens com a igreja e com a fé é diferente não por culpa exclusiva da Igreja mas pela sua incapacidade em competir com atividades e práticas que roubam e desviam a atenção dos jovens.

“Os jovens hoje são distraídos de uma forma poderosíssima por estímulos que lhes são colocados à frente dos olhos 24 horas ao dia, que absorvem e monopolizam a sua atenção orientando-os para coisas supérfluas, que não têm sentido na sua formação e que até os escravizam” adianta o docente sublinhando o perigo que isso oferece para a desestruturação da sociedade.

E exemplifica: “as redes sociais são uma sarna incrível que coloca as pessoas no mundo da comunicação mas onde não se comunica” refere Ricardo Madruga da Costa lembrando que a comunicação feita nesses areópagos é desenvolvida entre pessoas anónimas “que não se conhecem, não se tocam e não se deixam conhecer”.

“Cria-se uma ilusão de proximidade e uma falsa ideia de partilha que nunca chega a existir tendo como consequência o vazio”, refere ainda destacando que “mais cedo ou mais tarde vamos perceber isto”.

“Não há ninguém que não ande com telemóvel, tablet; não se olha para as pessoas, não se olha para ninguém não se fala com ninguém. Estamos ligados a máquinas e o outro está sempre ausente”, precisa.

Por isso, conclui, “é muito fácil dizer que a igreja falhou com os jovens, mas não”.

O que se passa com os jovens passa-se também com os adultos acrescenta frisando que “a igreja em certa medida não falhou; não consegue é competir com esta onda avassaladora de coisas que atinge jovens e menos jovens”. E, quando “achamos que estamos também a entrar já há outras coisas que atraem  e nós estamos sempre a correr atrás”.

“Por um lado a globalização, por outro o desenvolvimento tecnológico, ambos coligados, tornam mais difícil a relação com a igreja, roubando-lhe protagonismo. Acontece com a Igreja mas também acontece com a Escola”, conclui.

Ricardo Madruga da Costa, na entrevista ao programa de rádio Igreja Açores deste domingo fala ainda do processo de canonização de Maria Vieira da Silva (é membro da Comissão Histórica); da leccionação da disciplina de História da Igreja no Seminário que constituiu um desafio muito exigente e da própria ação da igreja no mundo de hoje.

“No Seminário não há diferença substancial em relação à Universidade: o ensino que ali se pratica é de nível superior e por isso muito exigente” refere o docente lembrando que “há uma responsabilidade muito grande” da parte de quem ensina no Seminário pois está a formar futuros sacerdotes que deverão ser referências ao nível das comunidades, seja do ponto de vista intelectual seja do ponto de vista humano e pastoral.

“Não há uma diferença substancial: o Seminário de Angra é uma instituição de Ensino Superior e por isso a exigência tem que ser cumprida com estes jovens que se estão a preparar para uma missão muito séria. Temos de ser muito objectivos nesta missão de ensinar no Seminário”, afirma.

A entrevista a Ricardo Madruga da Costa, conduzida por Tatiana Ourique, vai para o ar este domingo, depois do meio dia no Rádio Clube de Angra e Antena 1 Açores.

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