A união resulta na mais bela festa religiosa

Por Walter Duarte

O povo dá o nome de “Alvorada” (primeira claridade ou crepúsculo da manhã), isto é do nascer no dia da festa. Habitualmente trata-se de uma salva de 21 tiros de foguete. O dia 24 de Abril de 2016 ficará marcado como o da celebração do primeiro centenário da Ouvidoria da Povoação, um dia histórico.

E foi com os 21 tiros de foguete que às 7 horas da manhã em ponto, a festa começou, apesar do dia estar um pouco cinzento, mas sem chuva. A nossa primeira deslocação foi à Ribeira Quente onde, pelas 13,30 horas, iniciou-se a procissão do padroeiro S. Paulo, pescadores de homens, que saiu da rua direita a caminho do porto, onde o barco de boca aberta “São Domingos” estava preparado e engalanado para transportar o santo para a Vila da Povoação.

No asfalto do porto estavam os pescadores que carregaram o seu santo padroeiro para a embarcação mais engalanada de todas, de entre os barcos de pesca. Eram catorze o número de embarcações prontas a formar aquilo que se dizia “A armada” que vai proteger o santo Padroeiro, São Paulo. Foram muitas as pessoas que estavam no cais para a despedida prestando homenagem e agradecer a protecção que dá aos que continuam a tirar o sustento do mar.

“Eu tanto que queria acompanhar o meu S. Paulo, de barco, mas as pernas já não me deixam”, lamenta um dos velhos lobos-do-mar que devido à sua doença não pode satisfazer seu desejo. Restava-lhe uma alternativa: ir por terra, de carro. Assim aconteceu.

Uma lágrima corria no seu rosto enrugado pelas brisas de vento frio misturado com sal da água do mar que o fustigaram na dura faina da pesca. Os barcos, em fila indiana, lá foram saindo do porto em direcção ao seu destino. Muitas famílias se juntavam para fazer a viagem de barco.

Entre elas o antigo e actual Ouvidor, Padre Silvino Amaral e Ricardo Pimentel respectivamente. À chegada da frota ao porto da Povoação estavam centenas de pessoas que aguardavam e faziam a recepção ao Santo Padroeiro que já havia desembarcado no antigo porto da Vila da Povoação, em 1956 por altura da comemoração do centenário da Igreja Matriz da Povoação.

Naquela altura, conta-nos um dos antigos que o mar estava revolto e foi com muita dificuldade que o barco que transportava o santo varara. Neste dia da Ouvidoria, o mar estava calmo e à ala de passeio os barcos demoraram pouco mais de meia hora para chegar à Povoação.

Organizada a procissão no cais do porto lá seguiu São Paulo pela rua 3 de Julho em direcção à igreja, tomando depois a rua Manuel José de Medeiros, jardim Municipal e rua Monsenhor João Maurício.

Nesse entretanto a padroeira das Furnas tinha chegado junto à casa de João Freitas Nunes e aguardado pela banda de música e o Pároco das Furnas Padre Ricardo Pimentel que tinha acompanhado o cortejo da Ribeira Quente.

Poucos minutos depois iniciou-se o percurso do largo do município até à Igreja usando os mesmos arruamentos. Já no jardim municipal se avistava mais três padroeiras perfiladas na Avenida Padre João de Medeiros, Nossa Senhora Penha de França de Água Retorta que naquela noite de sábado para domingo tinha pernoitado em casa de um água-retortense, Engº Silvério, onde foi decorado o andor e iniciado o cortejo até à Igreja, Nossa Senhora da Graça do Faial da Terra que tinha saído do Faial e seguido para a referida avenida e Nossa Senhora dos Remédios que tinha sido preparada na Lomba do Loução e em cortejo juntou-se às restantes.

O largo da Igreja, a frente do Centro de Saúde e arruamentos confinantes estavam apinhados de gente que tinha chegado à Vila de todas as freguesias do concelho. Momentos comoventes aconteceram quando cada Padroeiro entrava no acesso à Igreja uma longa e forte salva de palmas se fazia ouvir a muitos metros de distância.

Com meia hora de atraso iniciou-se a missa solene, sendo a Igreja Matriz pequena demais para tanta gente que queria participar. No exterior ficaram mais pessoas do que aquelas que estavam no interior do templo. O concelho respondeu à chamada para comemorar este centenário.

Com a presença de antigos Ouvidores, exemplos do Padre José Fernandes de Medeiros e Silvino Amaral, a Eucaristia foi presidida pelo Vigário Geral da Diocese Padre Hélder Manuel Fonseca Melo, ladeado pelos dois antigos ouvidores, Padres José Fernandes de Medeiros e Silvino Amaral. Estiveram a concelebrar, para além dos Párocos da Ouvidoria, o Monsenhor Weber Pereira e outros convidados.

A missa foi abrilhantada pelo Coro de Ouvidoria, expressamente ensaiado para a comemoração, sendo maestros Andreia Amaral, Edgar Almeida e Leonel Vieira. Foi um coro que esteve à altura da comemoração, excelentemente interpretado por mais de uma centena de vozes. Após a missa e o relógio já marcava poucos minutos além das 18 horas a procissão foi organizada e que contou para além de todos as Padroeiras e padroeiro, de representações paroquiais dos impérios do Espírito Santo, dos romeiros, dos escuteiros, das instituições sócio culturais e recreativas, Juntas de Freguesia, representante do Governo dos Açores, Presidente e vereadores da Câmara Municipal da Povoação e Presidente e membros da Assembleia Municipal.

Foi um cortejo muito longo e só por breves instantes caiu uma chuvinha miudinha quando se esperava dias antes um dia de chuva e vento. Após a recolha da procissão todas as Padroeiras e padroeiro apresentaram-se em cima do adro da Matriz e as bandas tocaram os respectivos hinos. Foi uma festa bela, cheia de fé e devoção e mais uma vez a Ouvidoria e suas gentes fiéis a Deus estiveram unidas.

 

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