Chamados a pescar

Pelo Pe Hélder Miranda Alexandre

Disse-lhe Simão Pedro: “Vou pescar”. Eles responderam-lhe: “Nós vamos contigo”. Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada (Jo 21, 3).

Vontade não lhes falta! Jesus tinha-os convidado desde o início a serem pescadores de homens. E assim fizeram. Cumpridores fiéis, vão com entusiasmo. Atiram-se ao trabalho. No entanto, não apanharam nada. Um gesto profético, infelizmente. Na verdade, ainda hoje não falta a vontade. Tomam-se iniciativas variadas, há sempre muito a fazer. Todos os dias surgem projetos e planos pastorais, mas a sensação recorrente é a de uma pesca limitada.

No entanto, quando o Senhor os convida a pescar o resultado é outro. A rede encheu-se de cento e cinquenta e três grandes peixes e não rompeu. A gematria hebraica indica-nos que esse número significa qahal, comunidade de amor. A Igreja é sinal de comunhão e unidade, rede que congrega o pescado. A mandato do Senhor, a pesca é abundante. Só então o discípulo predileto afirma “é o Senhor”.

A missão é assim, só produz a partir do mandato do Senhor, e consequentemente do reconhecimento de Ele é o Senhor. Senão, ela própria faz parte da tentação de procurar a própria satisfação e não o Seu mandato.

Iniciámos a quinzena de oração pelas vocações. O tempo é de resposta ao convite do Senhor, no seio da Igreja. O Papa Francisco é incisivo: “Como gostaria que todos os batizados pudessem, no decurso do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, experimentar a alegria de pertencer à Igreja! E pudessem redescobrir que a vocação cristã, bem como as vocações particulares, nascem no meio do povo de Deus e são dons da misericórdia divina! A Igreja é a casa da misericórdia e também a «terra» onde a vocação germina, cresce e dá fruto” (Mensagem do 63º dia de oração pelas vocações).

Pedro “vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar”. Um gesto desconcertante! Porquê vestir-se para se atirar ao mar? A ideia parece contraditória, diria mesmo irónica! No entanto, significa vestir a túnica, o “fato macaco” do missionário, e lançar-se sem medos, nem desculpas.

O início desta quinzena coincide com a publicação da recente Exortação Pós-Sinodal Amoris Laetitia, um documento que poderá iluminar profeticamente o papel da família, berço das vocações. “Neste sentido, é salutar a combinação de tempos de vida no Seminário com outros de vida em paróquias, que permitam tomar maior contacto com a realidade concreta das famílias. De facto, ao longo da sua vida pastoral, o sacerdote encontra-se sobretudo com famílias. «A presença dos leigos e das famílias, particularmente a presença feminina, na formação sacerdotal, favorece o apreço pela variedade e complementaridade das diferentes vocações na Igreja»” (Amoris Laetitia, 203).

A obra não é nossa, mas de toda a Igreja em Cristo! Que a nossa oração, a nossa generosidade e entrega fortaleçam o nosso sim para que surjam novos “sim” ao convite do Senhor.

*O Pe Hélder Miranda Alexandre é Reitor do Seminário Episcopal de Angra e o responsável diocesano pela pastoral vocacional

Scroll to Top