Dia Mundial das Missões – “Jesus não quer simpatizantes mas discípulos”

Nasceram ambos nos Açores. A vida levou-os para fora. Francisco Medeiros e Paulo Coelho são missionários. Os dois sabem que não podiam ter seguido outro caminho.

Oito anos separam dois homens marcados pela insularidade e pelo gosto que têm pelos Açores. Os seus caminhos até podem nem se ter cruzado, mas há algo que os une sem os próprios se darem conta: a fé no evangelho e a vontade de a partilharem com o seu semelhante, independentemente da geografia ou da missão.

Francisco Medeiros - missionário comboniano
Francisco Medeiros – missionário comboniano

Francisco Medeiros, missionário Comboniano, foi ordenado sacerdote missionário na Matriz de Ponta Delgada em 79. Partiu para a África do Sul em  Abril de 86.

Nessa altura, Paulo Coelho, era estudante de Medicina e estava a reaprender o evangelho, depois de uma deriva de fé. A biografia de São Francisco de Assis, o seu pensamento e modo de vida, foram suficientes para que decidisse abraçar uma outra vocação para além da de médico. Próximo da Juventude Franciscana, parte como leigo para a sua primeira e única missão no estrangeiro. Mas, suficiente para “revolucionar” a vida.

“Eu queria viver a vida de São Francisco. Mendigar e andar por aí a viver na rua. Pensei mesmo em desistir de Medicina mas acabei vivendo com um amigo num bairro muito pobre de Lisboa e depois surgiu esta possibilidade de participar numa missão servindo os outros”, recorda Paulo Coelho, responsável clínico pelo Domus Fraternitas, um centro de cuidados paliativos dos Franciscanos em Braga que presta igualmente cuidados a uma comunidade terapêutica de toxicodependentes.

Ao fim de três anos e meio ao serviço dos hospitais franciscanos e da leprosaria da Guiné, Paulo regressa a Portugal com uma decisão na bagagem: ingressar na Ordem e ser Frade Franciscano.

Tirou teologia e em 98 foi ordenado. Desde então as missões não pararam. Entre portas, pois também aqui “precisavam de mim”, sobretudo no apoio aos doentes seropositivos e agora aos toxicodependentes com quem desenvolve uma prática clinica de psicoterapia, “com bons resultados”.

“Assim também evangelizamos com o nosso exemplo de vida”, adianta com satisfação por estar “a ajudar os outros no sítio onde  é preciso”.

 

Francisco Medeiros - missionário comboniano
Francisco Medeiros – missionário comboniano

É este sentido de missão que também faz de Francisco Medeiros um exemplo de vida enquanto missionário. Dos 61 anos que tem, 21 foram passados em África.

“O missionário tem de ser alguém disposto a ir para onde precisam dele”.

 

E Francisco foi. Iniciou a comunidade católica de Bronkhorstspruit, uma zona agrícola na África do Sul, com o tamanho de metade da ilha de São Miguel.

A primeira missa que celebrou tinha sete portugueses e uma inglesa.

“Dois anos depois já eram cerca de 120 pessoas”, lembra com o orgulho de quem sabe que é deste fermento que a igreja precisa. Deixou cinco comunidades católicas formadas numa terra onde só se falava Zulu.

“Ser missionário é ajudar as pessoas e fazê-las sentir próximas de Deus. Um Deus que vem ao seu encontro”, “sem formalidades”, “ e que nos estimula a ser o que devemos ser”, constata Francisco, com simplicidade, lamentando o facto de “vivermos num mundo que perdeu Deus”.

Talvez por isso, agora que vive em Viseu, admita que também por cá há necessidade de uma nova evangelização, no ano em que a Fé e as Missões andam de mãos dadas, depois do repto lançado pelo Papa Francisco, para quem a “força da fé se mede pela capacidade de a comunicar aos outros e de a dar a todos os que partilham o caminho da vida”.

A mensagem do Santo Padre cola-se a Francisco Medeiros e a Paulo Coelho como uma segunda pele.

“Acreditar naquilo que se faz não é uma questão de fé religiosa. Essa dá-nos a força de amar aqueles a onde vamos, a aceitá-los como irmãos e a partilhar o que somos com eles”, diz o Missionário Comboniano.

Mais do que uma comissão de serviço, ser missionário é “identificar-se tanto quanto possível, aguentar, suportar as dificuldades, esquecer muitos pressupostos e caminhar com as gentes ao seu ritmo”, conclui.

Por isso, mais do que uma efeméride, o dia Mundial das Missões, que se assinala no próximo dia 20 de Outubro “é uma chamada de atenção a todos os batizados”, alerta Francisco Medeiros, porque “se aceito e me identifico com o que Jesus disse e fez, tenho de ser ativo na minha vivência dessa fé. Jesus não quer simpatizantes mas discípulos”.

A vida missionária bem pode começar como uma aventura, o desejo de conhecer e partilhar costumes, ideias e culturas. Mas, se for feita de forma organizada pode ser o início de muitas coisas. Paulo Coelho e Francisco Medeiros são o exemplo disso.

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