“É preciso devolver a esperança às pessoas” afirma padre Moisés Rocha

Ex-capelão português da base das Lajes, em 2001, lembra o 11 de setembro e recorda oração pelas vítimas

Os dias seguintes aos atentados de 11 de setembro de 2001, contra as Torres Gémeas, em Nova Iorque, foram momentos de “grande apreensão e angústia”, recorda o ex-capelão português na Base das Lajes nessa altura.

“Diante de um acontecimento tão grave só podíamos estar consternados e apreensivos, não só pelo que estava a acontecer mas, sobretudo, por aquilo que isto representava e as dificuldades que todos iríamos sentir” recorda o padre Moisés Rocha, coronel na reserva e capelão português da base das Lajes em 2001.

“No momento imediato aos atentados a nossa primeira preocupação foi rezar pelas vítimas mortais, mas também pela vida de todos os que estavam a viver aqueles terríveis acontecimentos”, sublinha recordando que a vida na base prosseguia normalmente e, depois do primeiro impacto, a grande preocupação centrava-se fora da base.

“A presença americana e a grande ligação que os funcionários portugueses tinham com os americanos, nomeadamente os inúmeros familiares que estavam no outro lado, geraram alguma ansiedade pois não se sabia o que se iria seguir”, recorda o ex-capelão.

“Os dias seguintes ao atentado foram de muita inquietude” destaca lembrando algum reforço da segurança na base.

Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, coordenados pela organização fundamentalista islâmica al-Qaeda vitimaram perto de 3 mil pessoas.

Os sequestradores colidiram intencionalmente dois dos aviões contra as Torres Gémeas do World Trade Center, na cidade de Nova Iorque, matando todos a bordo e muitas das pessoas que trabalhavam nos edifícios.

Ambos os prédios desmoronaram duas horas após os impactos, destruindo edifícios vizinhos e causando vários outros danos. O terceiro avião de passageiros colidiu contra o Pentágono, a sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, no Condado de Arlington, Virgínia, nos arredores de Washington, D.C.

O quarto avião caiu num campo aberto próximo de Shanksville, na Pensilvânia, depois de alguns dos seus passageiros e tripulantes terem tentado retomar o controle da aeronave dos sequestradores, que a tinham reencaminhado na direção da capital norte-americana. Não houve sobreviventes em qualquer um dos voos.

Os Estados Unidos responderam aos ataques com o lançamento da Guerra ao Terror: o país invadiu o Afeganistão para derrubar os Taliban, que governavam o país desde 1996 e albergavam os terroristas da al-Qaeda.

Os ataques norte americanos, sem o acordo da ONU mas com o apoio de Espanha e da Inglaterra foram decididos na ilha Terceira, na Cimeira das Lajes, mediada pelo governo português chefiado por Durão Barroso, em fevereiro de 2002.

“Desta cimeira resultaram opções políticas que não discutimos, porque não é esse o âmbito da nossa ação, mas as decisões que ali foram tomadas levantaram-nos algumas preocupações” refere o sacerdote.

A ilha, apesar da sua situação geo-estratégica, tão valorizada pelas tropas norte-americanas, era uma ilha de paz  e uma declaração de guerra como a que se assistiu em 2002, sem o patrocínio da ONU poderia ter repercussões graves.

“Isso gerou alguma preocupação, devo confessar”, salienta o sacerdote.

Hoje, volvidos 20 anos, a morte de Bin-Laden, dirigente máximo da al- Qaeda e o regresso dos Taliban ao poder, o padre Moisés Rocha lembra que é preciso devolver a “esperança e a paz” a todos os povos do mundo.

“É preciso que quem tem o domínio dos povos perceba que não podemos continuar a olhar apenas para o nosso umbigo e temos de ter em conta a humanidade inteira”, afirma em declarações ao Igreja Açores.

“É preciso que os homens se respeitem mais; que haja mais compreensão e que todos façamos o nosso melhor para que todos os nossos irmãos, independentemente da origem, da religião, possam ter uma vida digna”, conclui lembrando que esta tem de ser a palavra de ordem da igreja e de qualquer cristão.

No atual contexto de saída dos norte-americanos do Afeganistão, o Governo Regional  dos Açores já anunciou a disponibilidade para acolher refugiados afegãos.

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