Festas do Divino Espírito Santo regressam com formato habitual

Coroações e bodos, celebrados com povo e `funções´, regressam ao terreiro

As Festas do Divino Espírito Santo vão marcar as ilhas dos Açores a partir deste fim de semana, com destaque para o primeiro Império de Pentecostes na Silveira, na ilha do Pico.

É o único Império da ilha que tem o seu dia principal ao sábado, tornando-o assim peculiar.

O voto que deu origem a este Império data de 1720 altura, em que depois de uma forte crise sísmica, se criou o mistério da Silveira, no concelho das Lajes. Três anos depois foi erguido o Império que se assume hoje como um dos mais antigos da Ilha do Pico na cronologia do povoamento desta ilha. Todos os anos este Império organiza a sua festa cativando a presença de muitos forasteiros.

Na Silveira a presença dos foliões mantém-se intacta com duas gerações o que não acontece em muitos lugares. Outra particularidade deste Império são as sopas, para as quais toda a população é convidada e participa cantando “vivas e louvores ao Senhor Espírito Santo”, com cânticos próprios.

O cortejo sai de casa do mordomo com as várias insígnias (estandartes e coroas), acompanhadas pelos foliões e pela filarmónica, rumo à igreja paroquial onde é celebrada a Santa Missa e a coroação. Segue-se o almoço de sopas do Espírito Santo, onde se sentam à mesma mesa da partilha os irmãos das irmandades com as suas famílias e todos aqueles que são convidados para a “função” ou “gasto de coroa”, como se diz em algumas freguesias da ilha montanha.

A meio da tarde realiza-se a procissão de recolha das rosquilhas ou vésperas que as senhoras levam à cabeça em açafates ornamentados com artísticas toalhas com os bordados da ilha e com as flores da época. Iguarias que depois, são distribuídas por todos os que passam na festa.

Uma das particularidades desta ilha, à semelhança do Faial e de São Jorge (as chamadas ilhas do triângulo) são os estandartes em forma retangular e enrolados numa vara que mantém nos seus quatro cantos uma “flor do lis” bordada, referência explícita aos primeiros povoadores destas ilhas, os flamengos vindos da Flandres.

Depois deste Império, as Festas em Honra do Divino Espírito Santo estendem-se até terça feira e depois são retomadas no fim de semana da Santíssima Trindade.

Ao todo no Pico realizam-se 45 Impérios, tantos quantas as irmandades existentes na ilha.

Também na ilha Terceira, o Dia do Bodo é o mais importante do ano, e embora existam dois domingos de bodo- o de Pentecostes e o da Trindade- na verdade, o primeiro é o mais importante.

No Ramo Grande, uma das zonas mais rurais da ilha, e também que mais fervorosamente vive esta tradição, multiplicam-se os impérios com os tradicionais carros de bois e a distribuição de pão e massa.

A tradição manda que se enfeitem os carros, com os mais bonitos panos de linho branco e os açafates para carregar o pão que se distribui a quem está no terreiro junto ao império.

Além do pão e do vinho, há sempre música.

É no segundo Bodo que se tiram os pelouros (que noutras ilhas se apelidam de sortes) para o próximo ano, isto é, se decide quem vai ficar com as insígnias do divino nas sete semanas de se seguem à Páscoa.

Há dois anos que a festa não sai à rua nos moldes habituais por causa da pandemia. No ano passado ainda se fizeram algumas comemorações assentes, sobretudo, na dimensão caritativa da festa, distribuindo esmola de carne, pão e vinho, entregues ao domicílio, evitando sempre a aglomeração de pessoas.

Apesar do alivio das medidas sanitárias, os responsáveis pelas festas lembram que se deve manter “alguma responsabilidade” procurando adotar medidas de proteção individual.

O culto ao Divino Espírito Santo é uma das marcas da religiosidade popular açoriana. Na ilha Terceira, este culto está documentado desde 1492, quando faziam o Império e se distribuía o bodo, no dia de Pentecostes, à porta de uma capela do hospital do Espírito Santo. Mesmo nos tempos de maior dificuldade, e de oposição da própria hierarquia, o culto nunca deixou de ser celebrado nos Açores. Hoje são os próprios papas que elogiam “o sopro do Espírito santo”, como uma “nova primavera para a Igreja”, como afirmou São João paulo II. Também Francisco sublinha que a celebração do Pentecostes representa “o antídoto para o frenesim contemporâneo” e que este este é o momento de dizer” Vem, vem Espirito Santo vem. Aquece o meu coração”.

`Um culto identitário´

O dia dos Açores é assinalado na segunda-feira de Pentecostes.

Este ano o dia da região será assinalado na Lagoa, na ilha de São Miguel, com a oferta das tradicionais sopas do Espírito Santo.

O Dia dos Açores foi instituído pelo parlamento açoriano em 1980, visando celebrar a autonomia política e administrativa da região, sendo celebrado na segunda-feira do Espírito Santo. Este ano entre os agraciados com as insígnias da região autónoma está a Santa casa da Misericórdia da Horta.

Scroll to Top