Gestos simples… mas grandes perdas

Por Renato Moura

Numa escala da SATA, no Aeroporto das Lajes, fomos obrigados a desembarcar e levar connosco a bagagem de mão. Subia uma escada quando alguém me disse: “O senhor quer que eu leve a sua mala?” Era leve e pude dispensar a ajuda. A pergunta vinha dum jovem, que não conheci; creio que ele também não. Para além de agradecer efusivamente, declarei o meu sentimento: “Estou estupefacto; há muito tempo não via um gesto assim; quero dar-te os meus parabéns e felicitar os teus pais por te terem transmitido valores”. Ele até mereceria referir o seu nome, mas não me ocorreu perguntar.

Estão a tornar-se raros gestos simples de cortesia, outrora habituais. Não só nos ensinavam a ajudar os velhinhos, como a ceder o nosso assento aos mais velhos ou doentes, e às senhoras. As pessoas saudavam-se nas ruas, davam os bons dias ao entrar nos locais públicos e retiravam o chapéu ou o boné. Mesmo a conduzir saudavam os outros condutores e transeuntes. Os que viviam perto eram carinhosamente tratados por vizinhos. Expressões como “obrigado”, “por favor”, “com licença”, “peço desculpa” ou “perdão” eram tidas por obrigatórias, nas situações adequadas aprendidas desde crianças. Pedia-se a bênção a pais, avós, padrinhos e até tios. Ouvia-se quando uma pessoa falava, só falando quando ela se calava.

Infelizmente, gestos como os descritos, são cada vez mais raros, parecem valores em extinção. Talvez as famílias já não ensinam! Provavelmente muitos professores levam anos a despejar manuais cheios de coisas supostamente tidas por muito mais importantes! Já não há nas freguesias aqueles padres e professores exemplares, autênticos poços de sabedoria, humanidade e disponibilidade.

Aqueles gestos simples significavam respeito, convívio saudável. E o respeito é uma virtude que não pode passar de moda, não é uma questão de opção, mas um dever obrigatório para com os outros. O verdadeiro respeito não nasce do medo, nem significa subserviência; gera reciprocidade, deixando espaço para a convivência, para a adesão ou para uma discordância firme, mas serena.

Sinal claro de não se darem ao respeito, para além de deseducativas, são frequentemente as discussões, na televisão, entre políticos ou comentadores, como no desporto algumas atitudes de treinadores e jogadores.

Os valores provindos do berço, desenvolvidos na família, estimulados e consolidados na prática da vida em sociedade, são indispensáveis para criar laços de respeito e solidariedade entre as pessoas.

Grandes perdas estão a advir do enfraquecimento da civilidade.

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