Papa lamenta nova tragédia com 700 imigrantes no Mediterrâneo

Francisco pede determinação da comunidade internacional para evitar mais mortes

O Papa apelou hoje à intervenção da comunidade internacional depois de mais um naufrágio no Mediterrâneo, com cerca de 700 imigrantes que viajavam com destino à Itália.

“Dirijo um sentido apelo para que a comunidade internacional atue com decisão e rapidez, a fim de evitar que tais tragédias se venham a repetir”, declarou, perante milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro para a oração do ‘Regina Caeli’.

Francisco comunicou aos presentes que desde o início do dia estão a chegar notícias “relativas a uma nova tragédia nas águas do Mediterrâneo”.

“Uma embarcação cheia de migrantes naufragou na última noite, a cerca de 60 milhas da costa líbia, e teme-se que haja centenas de vítimas”, referiu.

O Papa manifestou a sua “mais sentida dor” perante “tal tragédia”: “São homens e mulheres como nós, irmãos que procuram uma vida melhor, famintos, perseguidos, feridos, explorados, vítimas de guerras. Procuram uma vida melhor, procuravam a felicidade”.

“Asseguro a minha recordação nas orações pelos desaparecidos e pelas suas famílias”, acrescentou, pedindo um momento de oração, em silêncio, por parte dos presentes, antes de rezarem em conjunto uma Avé-Maria.

Segundo a imprensa italiana, o alerta partiu de um navio português, depois das operações de salvamento de 28 sobreviventes.

O barco que transportava os cerca de 700 imigrantes virou cerca das 23h00 de ontem (hora dos Açores), nas proximidades do sul da ilha italiana de Lampedusa.

Segundo a cadeia de televisão BBC, o primeiro-ministro de Malta Joseph Muscat já reagiu, dizendo que muitas pessoas podem ter morrido no naufrágio, e a porta-voz da agência de refugiados da ONU, Carlotta Sami, adiantou que, “no momento, há receio de que se trate realmente de uma tragédia de grandes proporções.”

O jornal italiano Corriere della Sera refere que o navio que lançou o pedido de ajuda para o resgate nacional da Guarda Costeira tinha bandeira portuguesa, com o nome “King Jacob”, e salvou 28 dos imigrantes.

Ontem as autoridades italianas detiveram 15 imigrantes ilegais por terem assassinado, atirando-os borda fora, 12 cristãos que procuravam atravessar o Mediterrâneo no mesmo barco.

Os detidos, segundo revela a BBC, são todos muçulmanos oriundos da Costa do Marfim, Senegal, Mali e Guiné; os cristãos mortos eram provenientes do Gana e do Quénia.

Segundo a BBC, todos os imigrantes detidos pelas autoridades foram acusados de “homicídio agravado motivado por ódio religioso” e estão agora na cidade siciliana de Palermo.

O incidente ocorreu num barco insuflável, que deixou a Líbia rumo à costa italiana na passada terça-feira com cerca de uma centena de pessoas a bordo.

Mais de 11 mil imigrantes desembarcaram em Itália nos últimos seis dias. Já este sábado, um grupo de 93 imigrantes, salvo pela polícia marítima italiana, chegou ao porto de Palermo, na ilha da Sicília.

As autoridades italianas decidiram converter vários hóteis na Sicília em centros de acolhimento.

Recorde-se que o tema da migração africana para a Europa tem sido recorrente nos discursos do Papa Francisco. No Parlamento Europeu, no ano passado, o Santo Padre pediu as autoridades europeias que não deixassem que o mar mediterrâneo se tornasse “num grande cemitério humano”.

Este domingo, na oração de Regina Caeli, Francisco associou-se ainda à ‘Marcha pela santidade da vida”, que decorre em Varsóvia, na Polónia, encorajando todos a “defender e promover sempre a vida humana”.

A tradicional catequese dominical abordou a ressurreição de Jesus como centro da fé cristã, tendo o Papa afirmando que esta “não é uma teoria, uma ideologia, um complexo sistema de preceitos e proibições, ou um moralismo, mas uma mensagem de salvação, um acontecimento concreto”.

“Se o cristão se deixa tomar pelo comodismo, pela vaidade, pelo egoísmo, se fica surdo e cego à pergunta de ‘ressurreição’ de muitos irmãos, como poderá comunicar Jesus vivo, o seu poder libertador e a sua ternura infinita?”, alertou.

A intervenção concluiu-se com uma oração à Virgem Maria, para que os cristãos possam levar a todos “os dons pascais da alegria e da paz”.

CR/Lusa

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