Papa desafia jovens a servir quem sofre, rejeitando “febre” consumista

Delegação portuguesa participa na celebração da solenidade de Cristo Rei, marcada pela passagem dos símbolos da JMJ

O Papa desafiou hoje os jovens católicos de todo o mundo a viver com dedicação a quem sofre, rejeitando uma mentalidade consumista e o “pensamento dominante”, que descarta os mais necessitados.

“Faço alguma coisa por quem tem necessidade, ou pratico o bem somente para as pessoas queridas e os amigos? Ajudo alguém que não me pode restituir? Sou amigo duma pessoa pobre? E muito mais, tantas perguntas que podemos fazer”, referiu Francisco, na homilia da Missa da solenidade de Cristo Rei, a que presidiu na Basílica de São Pedro.

A celebração contou com a presença de uma delegação portuguesa, que recebeu  os símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) – a Cruz peregrina e o Ícone de Nossa Senhora – no final da Eucaristia.

O Papa alertou para a “febre de consumir” e a “obsessão pelo divertimento” que afetam as novas gerações, observando que “amar é principalmente dom, escolha e sacrifício”.

A intervenção convidou os jovens a assumir “escolhas vigorosas, decisivas e eternas”.

“Hoje, escolher é não se deixar domesticar pela homogeneização nem anestesiar pelos mecanismos do consumo, que desativam a originalidade, é saber renunciar às aparências e à exibição. Escolher a vida é lutar contra a mentalidade do usa e deita fora, do tudo e imediatamente, para orientar a existência rumo à meta do Céu, rumo aos sonhos de Deus”, afirmou Francisco.

O Papa destacou a importância dos “grandes sonhos” na vida dos jovens, para que estes alarguem os seus “horizontes” e não fiquem “estacionados nas margens da vida”.

“Não fomos feitos para sonhar aos feriados ou ao fim de semana, mas para realizar os sonhos de Deus neste mundo. Ele tornou-nos capazes de sonhar, para abraçar a beleza da vida”, indicou.

O Santo Padre comentou uma das passagens que tem como referência do seu pontificado, do Evangelho segundo São Mateus (Mt 25, 37-40), sobre a necessidade de identificar Jesus Cristo nos necessitados e em quem sofre.

“O bem que fizermos a um dos seus irmãos mais pequeninos – esfomeados, sedentos, forasteiros, necessitados, doentes, reclusos – será feito a Ele”, observou.

Francisco sublinhou que são estas obras que “tornam eterna” a vida.

“As obras de misericórdia são as obras mais belas da vida. Se tens sonhos de verdadeira glória – não da glória passageira do mundo, mas da glória de Deus –, esta é a estrada; pois as obras de misericórdia dão mais glória a Deus do que qualquer outra coisa”, referiu.

O Papa alertou que “escolhas banais levam a uma vida banal”, realçando que “a beleza das opções depende do amor”.

“Se escolhemos roubar, tornamo-nos ladrões; se escolhemos pensar em nós mesmos, tornamo-nos egoístas; se escolhemos odiar, tornamo-nos furiosos; se escolhemos passar horas no telemóvel, tornamo-nos dependentes. Mas, se escolhermos Deus, vamo-nos tornando dia a dia mais amáveis; e, se optarmos por amar, tornamo-nos felizes”, afirmou ainda.

A homilia recordou o exemplo de São Martinho, cuja festa litúrgica se celebra a 11 de novembro, um jovem romano de 18 anos, que, ainda não batizado, “cortou o seu manto e deu metade ao pobre, suportando o riso de escárnio de alguns à sua volta”.

“São Martinho era um jovem que teve aquele sonho porque o vivera, embora sem o saber, como os justos do Evangelho de hoje”, acrescentou.

“Jesus sabe que, se vivermos fechados e na indiferença, ficamos paralisados, mas se nos gastarmos pelos outros, tornamo-nos livres. O Senhor da vida quer-nos cheios de vida e dá-nos o segredo da vida: só a possuímos, se a dermos”, disse.

Francisco admitiu que, na vida dos mais novos, há “obstáculos” no momento de decidir, “o medo, a insegurança, os porquês sem resposta”.

“A vida já está cheia de escolhas que fazemos para nós mesmos: ter um diploma, amigos, uma casa; satisfazer os próprios passatempos e interesses. De facto, corremos o risco de passar anos a pensar em nós mesmos, sem começar a amar”, advertiu.

No final da homilia, o Papa deixou um “conselho” para os jovens para que possam “escolher bem”.

“A opção diária situa-se aqui: escolher entre o que me apetece fazer e o que me faz bem. Desta busca interior, podem nascer escolhas banais ou escolhas vitais. Olhemos para Jesus, peçamos-Lhe a coragem de escolher o que nos faz bem, de caminhar atrás d’Ele pela via do amor e encontrar a alegria”, precisou.

Concelebram com o Papa o cardeal Kevin Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, e os cardeais portugueses D. José Tolentino Mendonça e D. Manuel Clemente; os bispos auxiliares de Lisboa D. Américo Aguiar e D. Joaquim Mendes, coordenadores-gerais do Comité Organizador Local da JMJ 2023; e três sacerdotes: o padre Filipe Diniz, diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil; os padres José Alfredo Patrício e António Estêvão Fernandes, reitor e vice-reitor do Colégio Pontifício Português, que colaboram com as atividades da JMJ 2023, em Roma.

Na recitação do ângelus, o Papa voltou à reflexão sobre a figura de Cristo, “rei pastor” que se identifica “com as ovelhas perdidas”, ou seja, “com os irmãos mais pequenos e mais necessitados”.

Assim indica o critério de julgamento: ele será feito com base no amor concreto dado ou negado a estas pessoas, porque ele mesmo, o juiz, está presente em cada uma delas”

“Seremos julgados pelo amor. O juízo será sobre o amor. Não sobre os sentimentos, não: seremos julgados pelas obras, a compaixão que se torna proximidade e ajuda atenciosa”, apontou Francisco.

O Papa convidou a uma atenção particular pelas famílias afetadas pela pandemia e que vivem momentos de “dificuldade”.

“Às vezes têm um pouco de vergonha e não o fazem saber. Sede vós a procurar onde há necessidade, onde está Jesus, na necessidade. Fazei isto”, apelou.

(Com Ecclesia)

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