Papa Francisco instaurou uma nova maneira de governar a Igreja

Cardeal Maradiaga adiantou os contributos do Conselho de Cardeais para a reforma da Cúria Romana

O cardeal Oscar Maradiaga, presidente da Cáritas Internacional, considera que o Papa Francisco criou uma “nova maneira de governar a Igreja” ao instituir um Conselho de Cardeais que reúne periodicamente para o ajudar na reforma da Cúria Romana.

“É uma nova maneira de governar a Igreja, que dá boas perspetivas para o futuro”, afirmou este sábado o presidente do Conselho de Cardeais, cardeal Maradiaga, aos jornalistas à margem da conferência promovida pela Comissão Nacional Justiça e Paz, em Lisboa, sobre “Dimensão Social da Evangelização no Mundo de Hoje”.

De acordo com o arcebispo de Tegucigalpa, nas Honduras, o Conselho de Cardeais, o chamado ‘C9’, “não foi uma invenção do Papa Francisco”, mas uma proposta das reuniões que precederam a sua eleição e que ele concretizou “mal começou o seu serviço”.

“Muitos cardeais disseram que o Santo Padre não estava bem informado. Muitas vezes filtram-se as informações, algumas nas Nunciaturas, outras nas Secretarias de Estado. Então, o Papa deveria ter um Conselho de Cardeais da base, de cada continente”, esclareceu D. Oscar Maradiaga.

O presidente do Conselho de Cardeais referiu que o Papa participa nas reuniões “não como inquisidor”, mas como “mais um”, gerando-se um clima de “muita confiança” que permite falar sobre “todos os problemas e sem meias-palavras”.

O Conselho de Cardeais já se pronunciou sobre questões financeiras do Vaticano, levando à criação de uma Secretaria de Economia, e agora está a trabalhar na reforma de outros setores da Cúria Romana.

“Fizemos uma sondagem em toda a Igreja e, a partir das indicações que nos chegaram, estamos a debater como tem de ser cada dicastério e concluímos que é conveniente reduzir o número de Conselhos”, adiantou o cardeal Maradiaga.

Para o arcebispo das Honduras, é “difícil” fazer reuniões periódicas entre os responsáveis dos muitos departamentos, estando sobre a mesa a proposta de agrupar o tema dos leigos, família e vida numa estrutura e noutra a caridade e justiça e paz.

D. Oscar Maradiaga recordou que a última Constituição Apostólica sobre a Cúria Romana, “Pastor Bonus”, demorou oito anos a ser aprovada; rejeitando a ideia de que um novo documento possa estar concluído em 2015, desejou que não “demore tanto” como a atualmente em vigor.

Ontem, o cardeal participou na conferência “Dimensão Social da Evangelização no Mundo de Hoje”, promovida pela Comissão Nacional Justiça e Paz em parceria com a Rede Europeia Anti-Pobreza / Portugal e a Cáritas Portuguesa e apelou a uma nova dorma de evangelização que tenha “muito presente” a dimensão social.

Por isso, essa evangelização tem de “alterar o contexto” a que se dirige e “tocar” realidades como o trabalho, a família, a alimentação ou a saúde.

“Já passou o tempo em que, depois de se falar da missão como evangelização, conversão e anúncio do kerigma, se podia considerar na praxis pastoral “o social” como um derivado da missão, e que, até certo ponto, se podia separar o “espiritual” do “social””, sustentou o presidente da Cáritas Internacional na conferência promovida pela Comissão Nacional Justiça e Paz.

O cardeal Maradiaga rejeitou a possibilidade de se “fazer missão, evangelizar” sem “alterar o contexto, sem tocar a realidade pessoal (no trabalho, na família, na alimentação, na segurança, no bem-estar, na saúde, na economia)”.

O presidente da Cáritas Internacional considera “inaceitável” uma “abordagem desencarnada”, que retira a dimensão social da evangelização.

“Não há separação entre o amor humano e a caridade cristã. Nem deve haver na prática uma disjunção entre evangelização e ação social nascida na caridade” referiu o arcebispo de Tegucigalpa, nas Honduras.

“A fé anuncia-se com as palavras e difunde-se com as obras. As duas realidades somam-se e integram-se entre si. Quando não existe esta mutualidade ativante entre o anúncio da fé e o serviço ao próximo, então é necessário reler as bem-aventuranças”, sublinhou.

Para o cardeal Maradiaga, “a missão, a misericórdia e o serviço aos pobres e a todos os irmãos, como experiência humana e missionária, deve ser um lugar de descoberta de Deus, de maior conhecimento do rosto de Cristo”.

Na conferência sobre a “Dimensão Social da Evangelização no Mundo de Hoje” o presidente da Cáritas Internacional sustentou caridade e espiritualidade “são inseparáveis”.

“Existe às vezes o perigo de concentrar a espiritualidade noutras metas, noutros valores, e não em dar primazia à caridade”, recordou o cardeal Maradiaga, acrescentando que a “bem-aventurança da misericórdia” consiste “ao mesmo tempo” na solidariedade e no “compromisso de amor eficaz com o irmão necessitado que está na miséria, no perdão das ofensas e na reconciliação”.

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