Presidente da Conferência episcopal diz que defesa da vida deve ser sempre uma prioridade da Igreja

Eutanásia e aborto devem ser temas prioritários na agenda da Conferência Episcopal, diz D. Manuel Clemente. Assembleia plenária da CEP arrancou esta tarde em Fátima

O aborto e a eutanásia são temas que “continuam presentes” na sociedade e que requerem a “atenção prioritária e constante” da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), defendeu hoje o presidente cessante, o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.
“Houve debates socioculturais muito fortes, por atingirem pontos essenciais da vida e do que ela requer. Disseram e dizem respeito ao princípio e ao fim da existência humana, ‘da conceção à morte natural’, posta em causa pelo aborto e a eutanásia. Continuam presentes e a requerer a nossa atenção prioritária e constante. Continuaremos a expressar-nos com serenidade e clareza, pois, aqui, como em tudo, importa mais convencer do que vencer. Como nos disse o Papa Bento XVI no Porto, a 14 de maio de 2010, ‘nada impomos, mas sempre propomos’”, disse hoje D. Manuel Clemente.
O presidente da CEP falava na abertura da Assembleia Plenária deste órgão, que se inicia hoje e termina na quarta-feira, com a eleição do sucessor de D. Manuel Clemente no cargo.
No discurso de abertura da sessão, o último enquanto presidente da CEP, D. Manuel Clemente fez um balanço dos sete anos em que esteve à frente da CEP e do seu Conselho Permanente, considerando que foi “um tempo exigente”, marcado por “desafios da sociedade e da vida eclesial”, como a crise económica e financeira que ainda afetava o país em 2013, quando assumiu o cargo, e a presente crise provocada pela pandemia de covid-19, quando deixa a presidência da CEP.
Para além das áreas prioritárias dos debates relativos ao aborto e à eutanásia, Manuel Clemente referiu-se ainda ao “trabalho e a subsistência digna das pessoas e das famílias, inclusive de quem chega, por imigração ou refúgio”.
Lembrou ainda “temas culturais propriamente ditos” como a “liberdade de aprender e ensinar, segundo a escolha de pais e encarregados de educação” e as “boas iniciativas” do terceiro setor, “que o Estado deve reconhecer e apoiar, ligando solidariedade (não esquecer ninguém) e subsidiariedade (estimular o que a sociedade faz por si própria e com bom resultado)”.
Recordando que estas são matérias sobre as quais a CEP se pronunciou, por vezes com “especial impacto, como as notas sobre a ideologia de género e a eutanásia”, defendeu ainda que “a eficácia dos pronunciamentos da CEP depende muito da sua radicação eclesial, ou seja, de brotarem da vida e da sensibilidade dos crentes”.
“Quando esta coincidência acontece e corresponde a problemas reais da sociedade, têm acolhimento e consequência. Porém, ainda há muito por fazer no campo da comunicação interna e externa, da linguagem utilizada e do modo atual de transmitir e receber”, disse.
D. Manuel Clemente referiu como bons exemplos a “vivacidade dos pronunciamentos” com origem em movimentos sociais e profissionais com uma “renovação de várias formas associativas e apostólicas, quase retomando o espírito da antiga Ação Católica”, com presença em vários grupos profissionais como médicos, enfermeiros, juristas, professores, entre outros.
“É um bom caminho e deve continuar a fazer-se”, disse.
O cardeal-patriarca abordou ainda o atual momento, mencionando a pandemia como um “momento especial da sociedade e da igreja em Portugal”, que “interrompeu brusca e profundamente” o ritmo da sociedade, mas que despertou solidariedade e criatividade na ajuda aos mais desfavorecidos, por parte não só da comunidade eclesiástica, mas de toda a sociedade.
“Reconheço e louvo tudo quanto se fez para minorar os efeitos da pandemia, nos âmbitos da saúde, da segurança social e do ensino, como na continuação de tudo o que é necessário à vida das populações. Houve heroísmo em muitos casos, na frente hospitalar e nos lares de idosos, para salientar os primeiros de muitos outros, onde também não faltou generosidade”, disse.
“Oxalá tanto bem que emergiu, face a um grande mal, recresça para o futuro, quer superando a pandemia que persiste, quer para nos retomarmos melhor do que estávamos antes”, acrescentou.
D. Manuel Clemente assumiu interinamente o cargo de presidente da CEP em junho de 2013, após resignação do cardeal José Policarpo, e um mês depois de ser nomeado cardeal-patriarca de Lisboa pelo Papa Francisco.
Em 2014 foi reeleito no cargo para um mandato de três anos, ao que se seguiu uma reeleição para o triénio 2017-2020.
A vice-presidência da CEP é ocupada pelo cardeal António Marto, bispo de Leiria-Fátima, e o padre Manuel Barbosa ocupa o cargo de secretário.
A Assembleia tem hoje início, na Casa de Nossa Senhora das Dores do Santuário de Fátima.
Na quarta-feira é conhecido o sucessor de Manuel Clemente, que ocupará a presidência entre 2020-2023.
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