Visita do presidente da República pode despertar para problemas concretos de desenvolvimento

D. João Lavrador diz que há ilhas que correm o risco de ficar despovoadas

O bispo de Angra destacou hoje a importância da visita do presidente da República à ilha do Corvo, considerando-a fator de estímulo e promoção do desenvolvimento local e do arquipélago açoriano.

“As pessoas devem ter uma proposta de desenvolvimento capaz de responder às suas necessidades mais imediatas, e um tipo de desenvolvimento adequado aos tempos em que vivemos, porque estamos na iminência de algumas ilhas ficarem despovoadas”, advertiu D. João Lavrador, em declarações citadas pela Agência Ecclesia.

O responsável católico saudou a presença de Marcelo Rebelo de Sousa na ilha do Corvo, a menor do arquipélago dos Açores, na passagem de ano, uma zona “periférica”, mas de especial importância, onde “a Europa começa”.

O bispo da diocese açoriana observa que o Corvo, em particular, é uma ilha com características especiais.

“Tem uma população de alguma maneira fixa, estão enraizados, apesar de já terem sido o dobro do que são hoje, mas nas últimas décadas têm mantido o número da população. Trata-se de pessoas muito agarradas à sua terra, com um gosto muito grande pelas suas tradições e com uma enorme capacidade de se reinventarem para ultrapassar as dificuldades que têm”, precisa.

O bispo de Angra sublinha que a “soma de nove ilhas” dos Açores implica problemas e desafios que devem ser encarados, “sobretudo na mobilidade e naquilo que deve ser uma economia equitativamente desenvolvida”.

“A verdadeira autonomia só se alcança quando se fizer um desenvolvimento equilibrado de toda a região”, acrescenta.

Apesar da dispersão natural de uma diocese dividida por nove ilhas, D. João Lavrador assume que a Igreja nos Açores “não pode perder o sentido da unidade e da comunhão entre todos”, com “uma atenção e uma comunicação cada vez maior em relação ao outro”.

O bispo de Angra sustenta que as pessoas têm de ter condições para “construir uma sociedade com desenvolvimento próprio, pois sem população a sociedade não existe”.

De resto este é um tema particularmente caro ao bispo de Angra que iniciou este ano uma caminhada sinodal em que desafia toda a diocese a refletir sobre as condições de vida no arquipélago, colocando a igreja em diálogo com a sociedade civil, numa altura em que os indicadores que servirão de base a esse diálogo apontam para problemas estruturais graves ao nível social e económico.

O primeiro dia do novo ano trouxe consigo uma efeméride pesada, os 40 anos do sismo que atingiu grande parte do arquipélago.

“É uma ameaça que os açorianos já aceitam como fazendo parte da sua vida”, lembra D. João Lavrador que não ignora que esta situação “cria dificuldades a nível das construções e afeta também as próprias igrejas”.

Atualmente ainda há templos que aguardam pela reconstrução, como uma capela na Paróquia de Santa Luzia, no Pico, ou de duas paróquias no Faial, onde vão arrancar as obras.

“Foi a conjugação de esforços e, sobretudo, a abertura por parte do Governo Regional para encontrar meios, também económicos, que permitiu esta reconstrução”, conclui o bispo de Angra.

Já ontem, o presidente do Governo dos Açores tinha valorizado as palavras de Marcelo rebelo de Sousa sobre os açorianos na mensagem de ano novo, onde o Presidente da República lembrou algumas das “lutas de todos os dias” dos habitantes na região.

“Na sua mensagem de ano novo, [Marcelo] teve oportunidade de referir vários aspetos que dizem muito aos açorianos, à nossa região, alguns que são lutas de todos os dias, e não apenas destas alturas”, destacou Vasco Cordeiro, falando aos jornalistas na ilha do Corvo após a mensagem de ano novo do Presidente da República.

Para o chefe do executivo regional, há um “trabalho quotidiano” na região para superar desafios como o bem-estar da população, o desenvolvimento das pessoas e do arquipélago, e o combate a formas de exclusão, entre outros elementos.

Ao entrar em 2020 no Corvo, Marcelo Rebelo de Sousa colocou a ilha mais pequena dos Açores e toda a região no centro da agenda mediática das comemorações de passagem de ano.

“Esta foi uma visita importante, não apenas para o senhor Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, mas também para os Açores e para o Corvo”, prosseguiu Vasco Cordeiro.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, confessou a sua “admiração” pelos corvinos e açorianos e evocou os que “mais longe estão” não só em distância, mas que nasceram nos “Portugais” que “menos têm”.

Numa mensagem de ano novo, feita, no meio do Atlântico, a 1.890 quilómetros de distância de Lisboa, Marcelo admitiu que “começar o ano num dos pontos mais longínquos no território físico” de Portugal, “na ilha do Corvo, é uma sensação única feita de admiração pela gesta açoriana”.

“De orgulho de ser português e de compromisso para com os que mais longe estão de tantos de nós”, afirmou, antes de confessar a “admiração pelo povo corvino, pelo povo açoriano, pela Região Autónoma dos Açores, orgulho em que se misturam o oceano sem fim, a coragem dos que tudo resistem para poderem ficar”.

Os corvinos podem estar longe de Lisboa – são cerca de 450 pessoas a viver na ilha –, mas o Presidente partiu do seu exemplo para “abraçar” e lembrar os portugueses que estão “longe”, seja por que emigraram, sejam os militares em missões de paz e humanitárias ou ainda os ex-combatentes da guerra colonial.

(Com Ecclesia e Lusa)

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