Zunzuns?!

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Por Renato Moura

Nas terras açorianas, quando rebentava a bomba, era para arrear à baleia. Lá fora, quando rebenta a bomba, vão para a cadeia. Diz-se, são detidos, os tidos por importantes. Frequentemente são políticos; e por acção da justiça, organizada pelos políticos, que viram críticos, quando lhes toca por casa. Diz-se: “à justiça o que é da justiça”; e a justiça às vezes encontra suspeitas. E como “à política o que é da política!”, do público falatório vem o contraditório, pois – alega-se – seriam apenas zunzuns feitos de rumores e boatos.

Nem uma amizade de criança, nem uma escolha de confiança significam segurança. Antigamente os mexericos faziam-se sobre um grande amigo, sacos azuis e fotocópias; e falava-se de condutores. Hoje há quem conclua não se poder ter amigos! Um gabinete pode ter chefe e parecer cofre. Os envelopes já podem ser tão perigosos como sacos. O risco pode não estar no vinho, mas na caixa.

Um pedido de demissão do ministro foi recusado pelo chefe; mas este não pôde evitar demitir-se ainda antes daquele – arguido – se querer demitir! Um constitucionalista em Presidente pode tornar a Constituição maleável: é só aceitar a demissão do 1.º Ministro, manter o Governo em plenas funções, como se não tivesse aceitado; dizer que se dissolve a Assembleia, sem dissolver, deixando deputados a legislar; deixar as formalidades para depois, de molde que o partido de quem se demitiu se possa organizar para as eleições! No futebol é o contrário: não se deve apitar em benefício do infractor.

Há exercícios políticos que já não dignificam. Mas continua a haver famílias adorando ver os seus em cargos políticos. A ânsia de candidatos para aceder a lugar, partidário ou institucional, origina guerras ou situações caricatas. Alguns não se medem! Há quem sonde ou convide, sem mandato; há quem se anuncie convidado, para depois se negar a si próprio! Talvez o prelúdio da historieta do governador que aceita ser tomado como dependente, com o sonho de ser presidente.

Há degradantes práticas políticas, que são realidades nuas e cruas e não se podem apelidar de intrigas, enredos ou atoardas. O povo intranquilo habituou-se ao ditado de que não há fumo sem fogo. Se persente não serem apenas zunzuns e quando vê cair-se na tentação de atribuir o ónus à justiça, para aliviar os prevaricadores, fica revoltado e ainda mais abalado.

O poder não deve ser sustentação, em vez de serviço. Mas não se pode desesperar. Há que reclamar pela democracia. Descobrir onde estão os valores. Exigir o regresso da ética.

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