Açores em Festa para celebrar o “senhor Espírito Santo”

Nas ilhas do Grupo Central a semana que começa este domingo de Pentecostes, até ao da Trindade, é de oração e de festa em louvor do Divino

É na zona do Ramo Grande, ilha Terceira, que porventura se dilui de forma mais evidente a tensão entre a Igreja Instituição e as Festas do Divino Espírito Santo afirma o padre José Júlio Rocha. O sacerdote é pároco das duas paróquias em que os respetivos grupos corais são `Imperadores´ do Espírito Santo.

“A Fonte Bastardo e o Porto Martins inserem-se culturalmente na zona do Ramo Grande, e isso não é apenas uma zona geográfica mas é também uma unidade cultural, única nos Açores” refere o sacerdote numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo, Dia de Bodo nesta zona da ilha Terceira.

“A celebração do Espírito Santo tem uma característica muito própria que é o `domingo de bodo´, de Pentecostes e da Trindade” destaca sublinhando a proximidade que existe entre esta festa promovida pelo povo e para o povo, na qual a Igreja tem um papel muito relevante.

“No Ramo Grande os eventuais conflitos existentes entre a Igreja instituição e a festa do Espírito Santo é muito diluído. O sacerdote é convidado a participar em tudo desde a oração do terço, em casa da família, até à bênção da carne, do pão e do vinho que servem para as esmolas” refere destacando que o momento “mais importante da festa”, que é o da coroação, “é feito na Igreja”.

“Embora possa existir algum ligeiro conflito, não separemos o culto ao Divino Espírito Santo e a Igreja”, afirma comparando a festa a uma espécie de “filho rebelde”.

“O Espírito Santo é uma espécie de filho rebelde mas é uma manifestação da Igreja”.

“ De certa forma, a festa do Espírito Santo confronta a Igreja institucional. Trata-se de um momento pascal e festivo; um tempo de luz que, por vezes, contrasta com algumas igrejas mais escuras e tristes; por isso, devemos olhar os nossos impérios como aqueles que provocam a Igreja a ser alegre”.

O sacerdote refere, ainda, que o dom da liberdade e “da liberalidade” são, porventura, a principal característica do Espírito Santo e recorda a fraternidade existente nestes dias.

“Era o dia mais importante, com roupa especial; pobres e ricos eram fraternalmente irmãos, partilhavam a mesma mesa, o mesmo pão e o mesmo copo de vinho; não havia desigualdades” e isso “é muito bonito”.

“Neste dia celebramos os três princípios da revolução francesa: a igualdade, a liberdade e a fraternidade; neste dia somos livres, irmãos e iguais…O bodo é o dia da abundância da fraternidade; é como se fosse o primeiro dia da chegada ao Céu” conclui o sacerdote. Este domingo de Pentecostes, o coral da paróquia de Porto Martins será até à trindade o Imperador do Império, sendo responsável pela realização de vários eventos culturais e religiosos durante esta semana.

Os principais Impérios do grupo central- Terceira, São Jorge, Pico, Faial e Graciosa- têm nesta semana a sua principal função.

 

Já este sábado na Silveira, o Império de Sábado saiu à rua com a coroação e a recolha das `rosquilhas´. Os açafates carregados de pão percorreram a rua principal do lugar em volta da Igreja de São Bartolomeu e os pães foram distribuídos por todos os que se juntaram à festa. De manhã, foi celebrada uma Eucaristia em memória dos irmãos do Império já falecidos, como disse ao Igreja Açores o presidente da Irmandade, João José Pereira.

Nos Rosais, na ilha de São Jorge, Odília Nunes mal pode conter a emoção de finalmente chegar o dia da sua coroação. Em 2020 era a mordoma, mas a pandemia impediu que ele se realizasse. Este domingo levará as coroas à Igreja e pagará a sua promessa.

“Levamos as coroas à Igreja; haverá uma coroação, segue-se o almoço de sopas e depois a `ramada´, com cavaleiros e foliões”. As esmolas também não podem faltar e o bezerro que deu a carne para a função e para as esmolas foi benzido esta semana.

“O culto ao divino Espírito Santo é aquele que melhor identifica os açorianos” refere o padre José Júlio Rocha.

O primeiro império existente nos Açores data de 1492 e é da Terceira.

(Fotos Pe. João António Neves)

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