“Ainda há um longo caminho a percorrer para que o Santuário seja uma realidade no coração de todos os peregrinos, daqueles que procuram a Luz”

Entrevista ao Reitor do Santuário de Nossa Senhora dos Milagres, Serreta, Pe. João Pires

Aproximamo-nos de mais uma festa, num momento em que a diocese se prepara para iniciar a sua caminhada sinodal. O Santuário é lugar de acolhimento e de mobilização da Igreja. Como é que vai ser este ano a festa da Serreta?

O novenário, que precede a festa da “Mulher vestida de Sol” (Ap 12,1), a Senhora dos Milagres, tem como tema: “Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho” (1Cor 9, 16). Com o conhecimento e participação do Conselho Pastoral, Comissão para os Assuntos Económicos e Comissão de Festas a novena começa no dia 30 de Agosto pelas 20h00 e termina no dia 7 de Setembro.

O dia 8 de Setembro, dia em que se celebra a festa de Nossa Senhora dos Milagres na sua Natividade, tem como ponto alto a Eucaristia das 16h00, presidida pelo Bispo D. João Evangelista Pimentel Lavrador, Bispo de Angra e com animação litúrgica a cargo do Grupo Coral da Serreta e Grupo Coral da Sé Catedral de Angra.

Teremos outras Eucaristias durante o novenário e no dia 8. Assim na Sexta-feira, dia 6 de Setembro, pelas 24h00 Eucaristia dedicada aos Cursilhos de Cristandade, com a animação litúrgica a cargo dos mesmos e presidida e pregada pelo Pe. José Júlio Rocha. No dia 8 de Setembro pelas 00h30 Eucaristia dedicada aos peregrinos, sendo presidida pelo Reitor do Santuário e pregada pelo Diácono Francisco Henrique Lima e com animação Litúrgica a cargo do Grupo Coral das Quatro Ribeiras. Às 06h00 da manhã Eucaristia dedicada aos peregrinos e presidida pelo Reitor. Às 10h00 Eucaristia dedicada aos peregrinos, com animação Litúrgica cargo do Grupo Coral dos Altares, sendo presidida pelo Reitor do Santuário.

O Santuário tem preparado um programa de acolhimento especial, como vão ser esses dias?

Para além do Novenário, que já em si é acolhimento, o grande acolhimento Eucarístico acontece todos os dias, teremos o sacramento da Reconciliação todos os dias das 18h00 às 20h00. Um sacerdote estará disponível para distribuir a misericórdia do Senhor. Também do dia 6 de Setembro para o dia 7 e do 7 para o dia 8 de Setembro, dias em que o Santuário não encerra, teremos cristãos da comunidade que estarão disponíveis para acolher os peregrinos que chegam ao Santuário e lhe prestarem a ajuda e apoio de que precisam.

Vêm peregrinos de todo o lado. Na sua maioria o que procuram neste santuário?

É um facto: vêm peregrinos de todo o lado. São os adoradores nocturnos, que só Deus conhece e o Espírito santo ensina e alimenta com o seu fogo sagrado. Como Jesus, no Evangelho do Centurião (Mt 8, 5-17), também nós ficaremos admirados, quando se revelarem os segredos dos corações.

Jesus é o Messias de toda a gente. Vem salvar todos, sem fronteiras nem diferenças. Igualando a todos num só amor. Pela fé seremos curados e veremos maravilhas. «Tudo é possível para aquele que acredita». Não há nada que detenha a fé: salta muros e barreiras, remove nuvens e montanhas, vê o invisível. Tudo vence, tudo transpõe.

“A Mulher vestida de Sol”, a Igreja, a Senhora dos Milagres tem este dom de “ser janela” e, ao mesmo tempo, “ser espelho”. A todos nos atrai como Eva, como mãe da Humanidade e a todos nos interpela e compromete no Evangelho do reino de Deus.

Que mensagem deixa aos peregrinos?

Uma peregrinação  (do latim  per agros, isto é, pelos campos) é uma jornada realizada por um devoto de uma dada religião, neste caso católico, a um lugar considerado sagrado por essa mesma religião, neste caso o Santuário Diocesano de Nossa Senhora dos Milagres. Para peregrinar há que ter em conta que não se trata apenas do acto de caminhar (no caso da peregrinação a pé), ou executar um trajecto com um determinado número de quilómetros. O peregrino caminha motivado “por” ou “para algo” transcendente. A peregrinação tem, assim, um sentido e um valor acrescentado que é necessário descobrir a cada pessoa que a executa.

 Do ponto de vista logístico, de 30 de Agosto a 10 de Setembro, o horário do Santuário será o seguinte: abertura às 08H00, e encerramento pelas 24H00; Do dia 6 de Setembro para o dia 7 e do dia 7 de Setembro para o dia 8 o Santuário não encerra; Todos os dias haverá serviço de confissões das 18h00 às 20h00; Os peregrinos que se deslocam a pé façam-no com segurança e cuidados de saúde (calçado adequado, hidratação, condições meteorológicas, etc…), e com equipamentos que facilitem a sua visibilidade por condutores (o colecto reflector será um bom auxiliar). Tenham em atenção a conservação e limpeza do meio ambiente, um peregrino também deve testemunhar o respeito para com a natureza; Aos condutores pede-se atenção redobrada nestes dias em que muitos milhares de peregrinos percorrem os caminhos que levam à Serreta; Na Sexta, dia 6 de Setembro, das 19h00 às 01h00 haverá fecho parcial de trânsito (sentido único) e no Sábado, dia 7 de Setembro, (18H00/02H00) e no Domingo, dia 8 de Setembro, (14H00/20H00 e das 21h00 às 01h00) o trânsito não será permitido no caminho principal junto ao Santuário, daí que as pessoas com mais dificuldades de locomoção, desejando ir ao Santuário, o devem fazer com alguma antecedência.

Como está a ser desenvolvida a pastoral neste lugar?

Em comunhão eclesial e sinodal com a Diocese de Angra, e dentro dos carismas e contingências daqueles que formam a comunidade cristã da Serreta. Este foi o meu primeiro ano como Reitor do Santuário, foi um ano de conhecimento da população, dos seus movimentos e da dinâmica dos peregrinos que por aqui passam. Ainda há um longo caminho a percorrer para que o Santuário seja uma realidade no coração de todos os peregrinos, daqueles que procuram a Luz.

O Papa tem insistido muito no papel crucial dos santuários na nova evangelização, sobretudo como lugares de misericórdia. Como é que esta questão está a ser tratada?

Os santuários só serão lugares de misericórdia quando todos nós assumirmos o nosso baptismo, ou seja, quando as energias e sinergias de todos os homens forem utilizadas para aumentar não o “meu” e o “teu”, mas o “nosso”, então serão eliminadas todas as causas das guerras, das discórdias, dos ódios e das injustiças. Incompatíveis com o Evangelho são a “avareza”, a “cobiça insaciável da possessão”. Os bens deste mundo não pertencem ao homem, mas a Deus, que os destinou a todos os homens. Quem os acumula para si, quem se apodera de mais do que é devido, sem pensar nos outros destrói o projecto do Criador. É urgente que nos tornemos ricos aos olhos de Deus. No Santuário da Serreta é ponto assente que as ofertas monetárias dos peregrinos serão usadas, única e exclusivamente, na manutenção dos equipamentos do templo, em obras de caridade para com a instituição seminário, na ajuda na formação dos sacerdotes, e possíveis ajudas humanitárias em casos de urgência, depois de submetidos a uma comissão de avaliação.

 

Hoje vivemos um tempo em que as pessoas resolvem a sua relação com o divino em curtos episódios e por breves momentos. A visita a um santuário é o exemplo. Como reitor de um santuário diocesano como é que vê a questão e como é que este contacto pode ser uma semente para um compromisso mais duradoiro?

A fé é revelação! Uma pequena vela pode iluminar uma vasta área que se encontre sob o domínio da escuridão. O Centurião do evangelho (Mt 8, 5-17) aproximou-se de Jesus, suplicou a cura do seu servo, assumiu a sua indignidade, acreditou na palavra de Jesus que lhe salvou o servo e que lhe fez comprometer-se com a fé. É nestes breves momentos que a fé, muitas vezes, pode surgir ou ressurgir.

 Qual o papel dos santuários diocesanos nos Açores?

Em primeiro lugar ajudar os peregrinos a acolher a fé. Leva-los a perceber que o que Jesus quis, isso sim, foi que a nossa vida valesse a pena e que não vivêssemos num disfarce permanente, atentos ao que é efémero e distraídos em relação ao essencial. A fé dá-nos uma outra perspectiva sobre as realidades mais naturais ou complicadas da nossa vida. A fé é a chave que dá sentido à nossa existência. Em segundo lugar ajudar os peregrinos a conservar a fé. A fé é algo transversal à nossa vida. A fé alimenta-se como uma fogueira em que se tem de colocar lenha constantemente, para que não se venha a apagar. Conserva-se a fé pela oração e pelos sacramentos. «A oração é luz da alma, verdadeiro conhecimento de Deus, mediação entre Deus e os homens», dizia São João Crisóstomo, no século IV. Os sacramentos, sinais da presença de Deus na nossa vida, e sobretudo o da Eucaristia, são ligações a Deus e força sua em nós. Em terceiro lugar ajudar os peregrinos testemunhar a sua fé. Uma fé que se pratica e cuja prática não se resume ao espaço ou perímetro da Igreja.

Este ano houve um encontro de reitores e a promessa de uma pastoral conjunta. Come vê a possibilidade de se criar um roteiro religioso com os santuários insulares?

Sinal dessa pastoral conjunta é o tema do novenário: “Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho” (1Cor 9, 16), comum aos Santuários. Respondendo de forma concreta à pergunta penso que o roteiro religioso devia começar com um roteiro dos Santuários (Santo Cristo dos Milagres em São Miguel e São Jorge, Bom Jesus no Pico, Nossa Senhora da Conceição e Serreta na Terceira) e mais tarde expandir-se para além deles, pois nos Açores, como dizia a O Cónego Francisco Dolores à IA, numa entrevista recente, «existe um manancial Arquitectónico (217 Igrejas, 290 Ermidas, 32 conventos e 10 Capelas), mas sobretudo espiritual, com raízes, bem específicas que deve ser potenciado». E são cada vez mais os turistas que chegam ao espaço religioso e não encontram nada que fale da sua história, arquitectura, das imagens, das raízes culturais e cultuais daquele espaço. Há muito trabalho a fazer neste campo.

Qual é o maior desafio que o Santuário da Serreta tem?

Ser um local de verdadeiro acolhimento e mobilização da Igreja, seguindo o exemplo da Virgem Maria que acolheu o plano de Deus: «Maria disse, então: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”» (Lc 1, 38) e «pôs-se a caminho» (Lc 1, 39).

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