Cancelamento da Festa do Senhor Cristo pode representar “3 a 4 milhões de perdas”, diz Câmara de Comércio e Industria de Ponta Delgada

Mercado da saudade é o principal responsável. Festas foram suspensas pela Igreja por causa da pandemia

O presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada estimou hoje entre cerca de três a quatro milhões de euros o impacto económico negativo da não realização das festas do Santo Cristo, na ilha de São Miguel.
Em declarações à agência Lusa, Mário Fortuna disse que as festividades, que deveriam arrancar na sexta-feira, concentram cerca de 20 mil visitantes que, na semana da realização do evento religioso, são responsáveis por milhões de euros, por via da hotelaria e restauração.
As maiores festas religiosas dos Açores, que têm como ponto alto a procissão do Santo Cristo dos Milagres, recebem anualmente milhares de pessoas de todas as ilhas dos Açores e do continente, bem como emigrantes oriundos dos Estados Unidos e do Canadá.
Este ano, a Azores Airlines, devido à pandemia da covid-19, não está a realizar voos para os Estados Unidos e Canadá, deixando em terra milhares de emigrantes dos estados de Massachussetts e Rhode Island, a par da Califórnia, bem como da zona canadiana de Toronto, que aproveitam para realizar um curto período de férias na ilha.
Também das outras ilhas não são esperados fiéis porque a operadora marítima pública Atlânticoline não está a efetuar ligações, sendo tradicional arrancar com a sua operação de verão com o transporte de passageiros para as festas do Santo Cristo.
Mário Fortuna, também economista, salvaguarda não haver estudos sobre o impacto económico das festividades, considerando, no entanto, que estas constituem um “pico importante numa época relativamente baixa” do turismo açoriano.
Para além da perda de receitas para as companhias aéreas como a Azores Airlines e a SATA Air Açores, que movimentavam, nesta altura, milhares de passageiros, também a restauração tradicional e as tasquinhas sentem o impacto negativo da ausência de fiéis e turistas.
Também em declarações à Lusa, o representante da Associação da Hotelaria de Portugal nos Açores (AHP), Fernando Neves, estimou em valores “superiores” a dois milhões de euros o impacto da não realização das festas do Santo Cristo.
Fernando Neves considera que as festividades constituem, num cenário normal, um “momento importante” na época baixa do turismo açoriano.
As festas do Santo Cristo dos Milagres, as maiores festas religiosas dos Açores, não se vão realizar, pela primeira vez em 320 anos, devido à pandemia da covid-19.
A Irmandade do Santo Cristo dos Milagres e o reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres decidiram suspender as festas em honra do ‘ecce homo’, mas garantem que a imagem do Santo Cristo vai sair à rua após a normalização da situação.
A decisão de suspensão das festas, que deveriam realizar-se em Ponta Delgada, entre 15 e 17 de maio, foi tomada após uma reunião com todos os envolvidos na organização e preparação das festividades.
Segundo os dados históricos disponíveis, a primeira procissão em honra do Santo Cristo dos Milagres teve lugar em Ponta Delgada, em 11 de abril de 1700, ano em que a ilha de São Miguel foi abalada por fortes sismos.
Desde o início do surto foram confirmados 145 casos da covid-19 nos Açores, 38 dos quais atualmente ativos, tendo ocorrido 91 recuperações (61 em São Miguel, 11 na Terceira, sete no Pico, seis em São Jorge, três no Faial e três na Graciosa) e 16 mortes (em São Miguel).
A ilha de São Miguel é a que registou mais casos (107), seguindo-se Terceira (11), Pico (10), São Jorge (sete), Faial (cinco) e Graciosa (cinco).
Portugal contabiliza 1.175 mortos associados à covid-19 em 28.132 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
Relativamente ao dia anterior, há mais 12 mortos (+1,%) e mais 219 casos de infeção (+0,8%).
(Com Lusa)
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