Diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações apela à solidariedade dos países europeus para o acolhimento de refugiados

Problema na fronteira entre a Turquia e a Grécia com migrantes do Médio Oriente está a transformar-se num drama humanitário

A diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM), Eugénia Quaresma, defendeu hoje que “a solidariedade europeia não pode empurrar a gestão de fronteiras só para um país, é preciso solidariedade partilhada”.
Segundo Eugénia Quaresma, que falava à agência católica Ecclesia a propósito da de refugiados na fronteira entre a Turquia e a Grécia, “usar os refugiados como peões não é solução”.
Esta responsável alertou, também, que “não se pode criminalizar os gestos humanitários”, e frisou que o que motivou “a abertura das fronteiras da Turquia não é assim tão positivo e a União Europeia coloca isto como chantagem; e usar os refugiados como peões não é solução”.
A diretora da OCPM, organismo dependente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), “há gente voluntária e de boa vontade a ajudar e não se pode criminalizar os gestos humanitários, é preciso trabalhar as mentalidades, a situação de refugiados não são rótulos permanentes”.
“Hoje são estes povos, mas amanhã podemos ser nós ou outros povos”, afirmou à Ecclesia, sublinhando o papel que Portugal tem desempenhado acolhimento de refugiados e reconhecendo que “a Grécia está sobrecarregada e não é justo. É preciso boa vontade de outros países, respostas organizadas, boa vontade política e comunidades que se abram a esta realidade”.
Já esta semana, três cardeais europeus (cardeais Jean-Claude Hollerich, arcebispo do Luxemburgo e presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia, Michael Czerny, subsecretário da Secção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, e Konrad Krajewski, esmoler pontifício), escreveram uma carta em que pediram às Conferências Episcopais da União Europeia (UE) que se mobilizem em favor do acolhimento, nos seus países, dos refugiados presentes na ilha grega de Lesbos.
Esta crise de refugiados surgiu depois de a Turquia ter anunciado, no final da semana passada, a abertura de fronteiras para deixar passar migrantes e refugiados para a UE, ameaçando assim falhar aos compromissos assumidos com o bloco comunitário.
O objetivo do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, é garantir mais apoio ocidental na questão síria.
É sobretudo a Grécia que enfrenta uma brutal pressão nas suas fronteiras externas com a Turquia, o que levou o país a pedir, no passado domingo, que a agência europeia da guarda costeira, a Frontex, lançasse uma intervenção rápida nas fronteiras externas da Grécia no Mar Egeu.
Essa operação, já em curso, permitirá ajudar as autoridades gregas a lidar com o fluxo de refugiados oriundos da Turquia, através de um reforço do pessoal e dos meios técnicos, como aeronaves, embarcações e helicópteros.
Na terça-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou uma ajuda financeira de 700 milhões de euros à Grécia para responder à pressão migratória no país, sobretudo de migrantes vindos da Turquia, mobilizando ainda assistência médica através do Mecanismo Europeu de Proteção Civil.
Realçando as “circunstâncias extremas e a situação difícil e tensa” no país, após uma visita à fronteiras externas gregas, a responsável avisou a Turquia: “Todos os que tentam testar a unidade europeia vão ficar desapontados, pelo que esta é altura de reafirmarmos os nossos valores europeus”.
A Bulgária também solicitou apoio europeu para lidar com a chegada de migrantes e refugiados à sua fronteira.
A UE e a Turquia celebraram em 2016 um acordo no âmbito do qual Ancara se comprometia a combater a passagem clandestina de migrantes para território europeu em troca de ajuda financeira.
Porém, a Turquia, que acolhe no seu território cerca de quatro milhões de refugiados, na maioria sírios, anunciou ter aberto as fronteiras com a Europa, ameaçando deixar passar migrantes e refugiados numa aparente tentativa de pressionar a Europa a assegurar-lhe um apoio ativo no conflito que a opõe à Rússia e à Síria.
(Com Lusa)
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